quinta-feira, 18 de abril de 2019

A inscrição na capela da Bicuda

            Desta vez, ganhei! Ninguém ousou sugerir uma localização para a inscrição de que apenas mostrei uma parte.
                     Ela aí vai toda e diz o seguinte, em língua latina:

                                                JOAQVIM NVNES EREIRA
                                                ANNO DOMINI MCMXLIV
                                                HOC TEMPLVM FECIT



            O que significa:
            «Joaquim Nunes Ereira fez este templo no ano do Senhor de 1944».
            Trata-se da capela da Quinta da Bicuda, que tem como orago S. José. Situa-se no limite noroeste do Lugar da Torre, freguesia de Cascais, junto ao que foi o «caminho da Areia» (hoje, Estrada Nova), paredes-meias, digamos assim, com o pinhal da Marinha.
            Ao contrário do restante espaço, que era «o bairro», a capela não foi vendida e mantém-se, mui louvavelmente, na posse da família Ereira. O demais foi destruído e transformando em condomínio.
            Ocupava a capela lugar proeminente no referido bairro, que estava destinado a alguns dos mais credenciados trabalhadores da quinta, uma exploração agropecuária verdadeiramente modelar.
            No centro do bairro, havia o poço, que deixou de ter préstimo assim que se colocou, junto à sacristia da capela, uma torneira para abastecimento dos moradores. Ao fundo, a casa da malta, à boa maneira ribatejana (Joaquim Nunes chamou-se Ereira por ter vindo da Ereira, aldeia do concelho do Cartaxo), para albergar os trabalhadores sazonais, a escola e a casa da professora.
            De cada lado do U, casinhas térreas, de janelas com verdes persianas de madeira, onde se vazara a imagem de uma galinhola, símbolo da quinta, desse pássaro aí abundante viera o nome «bicuda». À frente de cada casinha, o jardim que cada qual alindava à sua maneira. No pinhal a noroeste, o espaço para as capoeiras, também elas de cada agregado familiar, a que se juntavam, numa parcela destacada do terreno a norte, as hortas.
            Repita-se: 1944! Onde há hoje aí – 75 anos passados!... – essa consciência social e comunitária?
                                                                                    José d’Encarnação

3 comentários:

  1. Marcelina Neves
    Obrigada por mais uma "pérola", Professor!

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  2. Margarida Lino
    Meu amigo, obrigada por nos recordares o local onde passámos os primeiros anos da nossa escola. Éramos crianças felizes! Um abraço, uma Páscoa feliz! - Guida

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  3. Bicuda, nome de pássaro
    Ereira, nome de aldeia
    José, nome de orago...
    Como devia ser bonita, esta comunidade. Ainda bem que não se sacrificou tudo ao "progresso".
    Mais um belo naco de prosa, a pedir atenção aos detalhes que nos rodeiam de memórias boas.
    Obrigada, José.
    MH

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