terça-feira, 25 de junho de 2013

Fado ao piano num cenário invulgar: o jardim da Casa de Santa Maria, em Cascais

            Escolheu Maria Ana Bobone um dos recantos românticos do jardim da Casa de Santa Maria, em Cascais, para, no sábado, 22, nos deliciar, com os temas do seu mais recente trabalho, lançado precisamente há um ano: «Fado & Piano».
            Poderá estranhar-se a simbiose, que, aliás, já fora ‘ressuscitada’ anos atrás por Mário Moita; sabe-se, todavia, que, no século XIX, era ao piano que amiúde se acompanhavam os fadistas e assim se retoma uma tradição.
            Dotada de uma voz jovem e cristalina, Maria Ana Bobone brindou-nos, ao piano, durante uma hora (das 21.25 h. às 22.25), com fados e canções tradicionais portuguesas, acompanhada por Rodrigo Serrão (no contrabaixo e na viola de fado) e por Sepúlveda Machado (na guitarra portuguesa). Presentes perto de trezentos ouvintes bem atentos, entre os quais bastantes turistas, que resistiram à aragem nem sempre suave que ali se fez sentir, apanágio habitual das estivais noites cascalenses… Mas o cenário era, na verdade, invulgar e até a Lua – a prenunciar o seu máximo esplendor que seria na noite seguinte – veio dar um arzinho da sua graça, a abrilhantar o serão.
            Fados de Amália, por exemplo, muito bem interpretados e, sobretudo, dotados de novos arranjos que o piano e, de modo especial, o contrabaixo souberam enriquecer deveras. De resto, a determinado momento, Maria Ana Bobone achou por bem mostrar não apenas o seu virtuosismo como executante mas também o dos seus acompanhantes, que nos deram provas de exímia versatilidade.
            Compreende-se, de certo modo, que a artista não tenha acedido a, pelo menos, mais um fado (pediu-se-lhe, por exemplo, a ave-maria!). Ter-lhe-ia ficado bem, porque – se estava com frio por causa da noite – também esse frio não fora diferente para os espectadores que não arredaram pé. Mas, enfim, soube-nos bem e estão de parabéns os responsáveis pela Casa de Santa Maria por terem logrado criar um espaço deveras acolhedor, rogando sempre a S. Pedro que traga noites serenas e mornas – que aquelas ramagens, senhores, preferimos que sejam, nestas ocasiões, tranquilo e bem aconchegado dossel…

[Fotos - de um instantâneo da actuação, da assistência e da 'comissão de acolhimento' - gentilmente cedidas por Sara Lourenço]

Publicado em Cyberjornal, edição de 20-06-2013:

 

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