Então não é que ainda não consegui,
até hoje, saber qual o autor dessa máxima do homem, da árvore, do filho e do
livro? Acabei por transcrever um
excerto do diálogo entre Jacinto e Zé Fernandes, em A
Cidade e as Serras, romance publicado em 1901:
«
– É curioso… Nunca plantei uma árvore!
–
Pois é um dos três grandes actos sem os quais, segundo diz não sei que
filósofo, nunca se foi um verdadeiro homem… Fazer um filho, plantar uma árvore,
escrever um livro. Tens de te apressar, para ser um homem».
Por
conseguinte, ou porque desconhecia mesmo ou porque não lhe apeteceu investigar,
Eça preferiu escudar-se num vago «não sei que filósofo». Uma coisa fica certa,
porém: antes de 1901 já o dito era comum!
E,
nesse dia, 25 de Abril, p. p., ‘agarrei’ num motor de busca da Internet e
fiquei a saber que o Google, como resposta, me proporcionaria 355 000
resultados! Claro, não iria ter tempo nem paciência para ver todos, mas
confesso que levei a curiosidade longe de mais e descobri que dessa frase se
dizia, por exemplo, que era do poeta cubano José Martí (1853-1895); de Confúcio
(551-479 a .
C.) (procurei frases célebres deste místico e nada encontrei); da sabedoria
árabe; um lugar-comum; uma lenda; um adágio popular; um provérbio; um dito
popular; uma história; uma frase; «os 3 elementos da felicidade»… E há mesmo
quem garanta: «Pode não acreditar mas é de Charles Chaplin!». Ora Chaplin viveu
entre 1889 e 1977 e A Cidade e as Serras é de 1901; portanto, Chaplin sai do
rol. José Martí tem muitos ditos axiomáticos, mas não acredito que Eça, seu
contemporâneo, lhe chamasse «filósofo».
Haverá,
pois, aí alguém capaz de deslindar o enigma?
Publicado
em Renascimento (Mangualde), nº 618, 15-06-2013, p. 12.
Não deve ser de José Martí. Há quem a atribua a Nietzsche (1844-1900). Certo é que o dramaturgo e poeta alemão Heinrich von Kleist (1777-1811), em 10 de Outubro de 1801, adapta essa frase numa carta à sua noiva ao afirmar que se retiraria da vida da cidade para cultivar um campo, plantar uma árvore e fazer um filho.
ResponderEliminarDe resto, quando os pensamentos, adágios e ditos são desconhecidos, logo se apressam a remetê-los para o longínquo Confúcio, mas sem localizar a fonte escrita.
É provável que o mistério continue...