quarta-feira, 3 de julho de 2013

Universidade de Coimbra, património cultural da Humanidade

             Muitas e condignas foram as manifestações de regozijo por, no sábado, 22 de Junho, no solstício do Verão, o Comité do Património Mundial da UNESCO, na sua 37ª sessão, realizada em Phom Penh, no Cambodja, ter classificado a Universidade de Coimbra como Património Mundial.
            O processo da candidatura – nem sempre fácil – começou a ganhar fôlego em 1999 e, para além dos vetustos edifícios universitários, procurou que nele se incluísse toda a chamada «Alta», com as construções do Estado Novo, e também a Rua da Sofia, num conjunto de mais de 30 edifícios. A este património material juntou-se, a partir de certa altura – e esse foi um aspecto muito salientado pelos membros do Comité – o património imaterial a ele inerente: a produção cultural e científica, as tradições académicas, o papel desempenhado no mundo ao serviço da língua portuguesa. Aliás, foram nesse sentido – de acordo com as notícias que nos chegaram – as intervenções mais entusiasmadas de membros do Comité, que advogaram a classificação ‘imediata’ desse património no seu todo. É a Universidade como símbolo de uma “cultura que teve impacto na humanidade”.
            Junto, pois, incondicionalmente, a minha voz ao regozijo de todos, recordando, como teve a gentileza de me lembrar Paulo Morgado (que de perto acompanhou o processo), as palavras do anterior Reitor, Seabra Santos: «Sobre estas pedras velhas a universidade está a construir o seu futuro».
            É que, na verdade, não temos uma, mas ‘várias’ universidades. A que ora foi classificada é um símbolo; é aquela que recordam os que por Coimbra passaram – e a cantam. A que existe, porém, mercê da mordaça económica com que o capitalismo desenfreado apertou o ensino universitário europeu, é uma Universidade de luta quotidiana, porque a querem reduzir ao papel de… empresa! Quando – e este é apenas um dos muitos exemplos que poderiam invocar-se – uma sociedade de advogados, contratada pela Universidade para forçar ao pagamento de dívidas, não aceita o parecer de professores segundo o qual um aluno, apesar de se haver inscrito, nunca frequentou as aulas e, por isso, não há que lhe cobrar propinas, e envia o processo para tribunal, com elevado montante de custas, temos a certeza de que não foi esta a Universidade ora classificada.
            «Saibamos honrar, conservar e preservar as pedras velhas, o título e o saber», escreveu Paulo Morgado.
            Oxalá!
 
Publicado em Renascimento (Mangualde), nº 619, 01-07-2013, p. 12.

1 comentário:

  1. Assim esperamos que seja! Pelo bem classificado! Por todos nós que somos e formamos Coimbra
    Obrigada por este texto

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