Tinha
o peixe o hábito – que partilha, aliás, com muitos de nós… – de comer as
sílabas, designadamente aquelas mais saborosas, as do meio. Por isso, é chamado
de Balhau e não de Bacalhau. E deu Nilton exemplos de inúmeras ocasiões do quotidiano
em que, de facto, comemos as sílabas – e toda a gente percebe o que queremos dizer!...
Ana
Colaço, da RFM, leu depois algumas passagens do livro, para nos alicia r e os dois filhotes gémeos do autor, a Inês e
o Guilherme, serviram… pastéis de balhau e sumos de… pêgo, laja, anás e mogo!
Enfim,
momentos deveras divertidos, como
divertida é a estória (que não podia
ser história!) do peixe que, um dia,
vê uma mica, a come e… não é que ela (a minhoca…) estava presa num anzol? Mas,
como só apanhara um peixe, o pescador dispunha-se a devolvê-lo ao mar, quando
se apercebeu que este lhe piscara o olho! Não resistiu, ficou com ele, levou-o
para casa e tornaram-se bons amigos. Imagine-se que até, um dia, foram a um
jogo de futebol! E o Balhau também aplaudiu os golos, de barbatanas levantadas.
Mas não sabia que só podia aplaudir os golos da equipa da bancada; enganou-se e
«um adepto que estava perto dele, olhou-o com olhar de reprovação e disse:
‒ Ó baixinho, vê lá se queres que te convide
para jantar peixe!».
Aí
ele percebeu.
Cativou
o Balhau o pescador pelo seu jeito de ver o mundo (por exemplo, a chuva a cair
era uma novidade enorme!...). Por isso nos cat iva
a nós também, porque nos ensina a ver as coisas «insignificantes e pequenas»,
aqueles «grãozinhos de areia» que fazem o nosso dia-a-dia.
No
final da estória, sentimo-nos melhores, enlevados em estranha serenidade,
deliciados com o saboroso olhar crítico que o Balhau – aquele que comia as sílabas
do meio – acaba por nos transmitir.
Publicado em Cyberjornal, edição de 2014-12-15:
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