sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

A magia dos perfumes que esconde outros mistérios

           Telefonou-me uma amiga a desejar boas-festas. Perguntei-lhe pelo filho. Estava em missão das Nações Unidas num arquipélago do Oceano Índico, ao largo de Moçambique. E a fazer o quê? Contou-me a história e eu não resisto a não a partilhar, omitindo apenas – por uma questão de diplomacia – o nome do arquipélago.
            Para já, o filho relatou-lhe que anda em calções e t-shirt e os indígenas com que se encontra vestem calça e casaco e gravata, porque pretendem assim equiparar-se aos europeus que, durante séculos, os escravizaram. E de que vivem? É o que vamos ver!
            Cresce ali a ylang-ylang, árvore que chega a atingir 20 metros de altura. Chegavam a atingir se as deixassem, pois, na actualidade, elas são podadas, mantidas, 'traumatizadas' a menos de 2 metros de altura para facilitar a recolha das suas lindas flores amarelas.
            Tem nome científico Cananga odorata, porque cheira muito bem (está, aliás, na origem do nome dado, em 1989, a uma telenovela da Manchete que passou entre nós: Kananga do Japão). E dela vivem os indígenas, porque a cortam, põem-na a destilar e obtêm assim um óleo deveras apreciado desde longa data, não apenas pela fragrância que exala mas porque é a matéria-prima para um dos perfumes mais cobiçados pelos Europeus e de que, nesta época natalícia, muita publicidade se faz, por ser caro e bem cobiçado pelo seu aroma forte e inconfundível. E o óleo essencial que da ylang-ylang também se extrai detém, reza a propaganda, outras magníficas e deveras importantes propriedades: é antidepressivo, antisséptico, afrodisíaco, hipotensor e pode ser usado como sedativo. Uma maravilha!
            Cada frasco obtido por destilação no alambique rende bem e contribui eficazmente para o indígena… dar nas vistas!
            E que está lá o filho da minha amiga a fazer? Facilmente se compreenderá: a estudar os meios de evitar a sangria da floresta, meio caminho andado para uma desertificação a breve trecho, se não forem tomadas medidas urgentes.
            Quem diria, pois, que aquele perfume tão propagandeado era originário lá bem de ilhas perdidas no Índico e que, para o obter, se estava a pôr em risco uma outra riqueza maior, que é o equilíbrio ambiental?

 
Publicado em Cyberjornal, edição de 25-12-2014:
http://www.cyberjornal.net/index.php?option=com_content&view=article&id=1136:a-magia-dos-perfumes-que-esconde-outros-misterios&catid=30:colunistas&Itemid=90

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