terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Histórias de professores…

            Surpreendeu-me (confesso) a repercussão que teve a crónica anterior sobre o menosprezo das escolas (nomeadamente as universitárias) em relação aos seus docentes aposentados ou jubilados: informações de casos idênticos e partilha de atitudes a louvar. Para além dos leitores habituais do Renascimento, ultrapassaram as 800 as visualizações e a meia centena os comentários à crónica de 15 de Janeiro atrás incluída «Os aposentados são para deitar fora?».
            Surpreenderam-me também algumas das histórias:
            «Lembro-me de que, passados três meses de ter sido aposentada, fui à escola e os alunos de uma turma, que tinha deixado, ao verem-me, pediram à Professora para sair um pouco da sala para me virem cumprimentar e a minha Colega autorizou. Foram não mais que cinco minutos, muito doces. Incrível! Essa Colega contou-me, estupefacta, quando me encontrou, que tinha sido chamada à atenção pela direcção, para não repetir tão condenável atitude!».
            «Em 1998, contava-me o grande classicista Hellmut Flashar, recém-jubilado da Universidade de Munique, que um 'fedelho' acabado de subir à cátedra lhe comunicou que, para utilizar a sala de professores (já que tinha ficado, no dia da jubilação, sem as mordomias do Ordinarius alemão: gabinete, secretária, tarefeiros), ainda que fosse para orientação dos doutorandos que ainda tinha, havia que cumprir os horários destinados a cada um, caso contrário perturbava».
            Felizmente, que também aí se contam mui louváveis deferências e compromissos. Contudo, o facto de haver, como igualmente se assinalou, «Professores e professores», como, de resto, acontece em todas as profissões, leva-me a realçar os depoimentos que vão no sentido de que, mais do que as atitudes administrativas dos «funcionários» das instituições (e ponho a palavra entre aspas para os distinguir dos funcionários-pessoas), o que conta, na vida de um docente, são as sementes que lançou. Por isso, me confortou uma das mensagens que, neste âmbito, recebi de Roma, de um velho amigo:
            «Atendendo à minha idade, isso já não me afecta; confortam-me muito, porém, a estima e o afecto que continuo a receber de colegas, próximos e afastados, e de ex-alunos e de alunos de alunos. Para mim, é esta a Universidade que conta e, enquanto aguardo a verdadeira e definitiva despedida, isso me basta!».
            Esse constitui, de facto, o mundo de afectos a que importa dar relevo!

                                                                        José d’Encarnação

Publicado em Renascimento (Mangualde), nº 678, 01-02-2016, p. 12.

2 comentários:

  1. Ana Teresa 2/2 às 20:00
    No meu local de trabalho gostamos muito que antigos colegas nos venham visitar e fazemos sempre uma festa quando os vemos.

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  2. Aurora Martins Madaleno 2/2 às 20:54
    Realmente, o que conta, na vida de um docente, são as sementes que lançou. No entanto, desagradam-nos as atitudes dos que permanecem na escola e mostram pouca consideração pelos jubilados. O que vale é que isso só acontece nalgumas escolas. Eu tenho boas experiências, graças a Deus.

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