terça-feira, 25 de julho de 2017

«Os Irmãos Karamazov» - uma prova e uma lição

       Está em cena, no Teatro Mirita Casimiro, em Cascais, a versão dramatúrgica de «Os Irmãos Karamazov», de Dostoiévski, feita por Graça P. Corrêa, a partir da adaptação a peça teatral levada a cabo por Jacques Copeau e Jean Croué, na tradução de Júlio Magalhães, e tendo em conta também o romance original, na tradução de Maria Franco.
            A encenação foi, naturalmente, de Carlos Avilez, que contou com Fernando Alvarez (mestre na arte da cenografia e dos figurinos) e com o extraordinário contributo de Natasha Thitecherova na coreografia, neste caso particularmente adequada, atendendo às características russas das danças (aquela Kalinka proporciona efeitos muito bonitos e «Ochi Chernye» deliciou-nos também).
            Quatro foram os elencos que se revezaram de sessão para sessão, porque se trata – como é hábito nesta época do ano – da PAP (Prova de Aptidão Profissional), ou seja, o exame, a prova prática dos finalistas da Escola Profissional de Teatro de Cascais. Contaram eles, desta vez, com a presença especial de Ruy de Carvalho e isso podem desde já apontar no seu currículo. Aliás, esse um dos aspectos mais interessantes da PAP, conforme Carlos Avilez a vem concebendo: os mais novos (entram os finalistas, do 3º ano, mas também alguns estudantes do 1º e do 2º) têm possibilidade de contracenar e, portanto, de aprender com senhores da cena teatral dotados de uma experiência inigualável. Ruy de Carvalho esteve, claro, no seu melhor e estou certo de que, também para ele, esta foi uma experiência deveras enriquecedora.
            Por outro lado, escolhe Carlos Avilez peças onde possa pôr muita gente em cena, de modo que aprendam a movimentar-se em conjunto, a adoptarem a expressão corporal mais indicada. Canto e dança são, por isso, imprescindíveis e agradam sempre – também pelo colorido do guarda-roupa – essas cenas movimentadas e onde os jovens estudantes dão largas à sua expressividade.
            Três notas me chamaram particularmente a atenção:
            ‒ a sobriedade (como sempre!) do cenário, em que o bem pensado painel de ícones ao fundo, como que em retábulo sacral, nos transportam para o ambiente das igrejas ortodoxas russas;
            ‒ o diálogo ou os diálogos em que a profundidade do pensamento pode passar despercebida, mas existe, prenhe de actualidade: quem é o homem? Para que está aqui? Que sentido tem a existência e a morte? Para que serve, afinal, a riqueza? O que é, no fundo, o verdadeiro prazer – a luxúria, o ter poder, o ser rico?...
            ‒ finalmente, a tentação a que Carlos Avilez não resistiu: alguns dos figurantes, como quem não quer a coisa, são guerrilheiros (ou guerrilheiras) do Estado Islâmico, com seus lenços lúgubres a deixarem-lhes apenas os olhos à mostra e, na mão, a metralhadora sempre pronta a entrar em acção… O nosso mundo no mundo dos Karamazov!...
            Ah! A não esquecer a beleza tétrica da cena final, a solenidade do transporte da urna… A Morte, enfim, como que sublimada, envolta num clima em que a estética é rainha! Genial!
            O espectáculo está em cena, de terça a sábado, às 21.30 h., aos domingos às 16 h. até 3 de Agosto.
                                                           José d’Encarnação

Nota: Imagens colhidas, com a devida vénia, da página do TEC no facebook

Ruy de Carvalho, com o painel dos ícones ao fundo.

As armas
Imagens de sempre!
Instantâneo ternurento

 
 

1 comentário:

  1. Sempre interessantes estas notas sobre o que se vai passando, neste caso no TEC, casa onde procuramos sempre assistir a cada peça que nos é proposta, com a admiração e a amizade que temos desde sempre pelo Avilez - desta vez com um convidado muito especial - obrigado pela opinião - abraço Carlos -

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