sábado, 19 de agosto de 2017

O significado de um «adeus»

            Sempre ouvi que não devia dizer-se «adeus», que era assim a modos de um mau agoiro, que a gente nunca mais se tornava a ver. Nunca consciencializara, porém, o verdadeiro significado da palavra. Agora, que me disseram, em S. Brás, que os senhores padres – idos de sabática neste mês de Agosto – não queriam festa de despedida, dei comigo a matutar: despedida? Soa a abandono, a ir para não voltar, o que não era o caso.
            Compreendi, falando com o Padre Afonso, que preferiam festejar para o ano os 50 anos da sua ordenação sacerdotal e seria esse um bom pretexto para renovar a evocação do muito trabalho cultural – para além, obviamente, do que lhes é específico, o pastoral – que levaram a cabo, com imenso entusiasmo e dedicação, em S. Brás de Alportel, uma S. Brás que, culturalmente, ninguém o nega, transformaram por completo, colocando um concelho até então pouco falado num referencial em muitos aspectos.
            Voltemos, porém, ao significado de «adeus» (não resisto a este pendor para as etimologias das palavras…). É «a Deus»; como, em francês, «adieu» (à Dieu); em italiano, «addio» (a Dio); em castelhano, «adios» (a Dios). Enfim, toda esta Europa ocidental cristã (excluem-se, claro, os Ingleses, que já se excluíram de vez…), põe na palavra um significado venturoso, espiritual, que é como quem diz: na pior das hipóteses (ou na melhor, conforme o prisma), encontramo-nos no seio da divindade! Bonito! Como é bonita a expressão dos nossos velhotes: «até que Deus queira!»…
            Perdoar-me-á o leitor não-crente esta incursão pela vertente espiritual da vida em que eu acredito; contudo, afinal, há no nosso dia-a-dia toda uma envolvência quase mística em que estamos mergulhados, sem que disso nos demos conta.
            Por consequência, que os senhores padres irmãos gémeos, José da Cunha Duarte e Afonso Cunha, repousem um aninho das múltiplas tarefas a que se dedicaram, rejuvenesçam com a pausa e… nós cá os esperamos! Não dizemos «adeus!», mas «até já!».

                                               José d’Encarnação

Publicado em Noticias de S. Braz [S. Brás de Alportel] nº 249, 20-08-2017, p. 13.

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