sábado, 26 de fevereiro de 2011

De génese ilegal


Foram solenemente apresentadas, no passado dia 3, no auditório do Centro Cultural de Cascais as actas da conferência, realizada a 13 e 14 de Março de 2009, sobre Áreas Urbanas de Génese Ilegal – projectos para a legalização de um sonho.
Realçou o presidente, Dr. Carlos Carreiras, que presidiu à sessão, quanto esta «legalização de um sonho» assumia importância fundamental, porque dava à pessoa o lugar que ela merece, num tempo em que (digo eu) impera a tirania dos números, sempre manipulados. Aliás, como salientou, Carlos Carreiras fez questão em manter sob sua directa tutela este pelouro, que sempre tem acompanhado com desvelo, até porque com essas áreas tem sempre vivido paredes-meias e compreende bem o que isso representa.
Cerimónia, pois, prenhe de significado porque, se então se discutiram projectos e essa discussão ora foi passada escrito – para que perdure! – o certo é que, nos últimos meses, largos passos se deram em Cascais para reordenar um território ocupado a trouxe-mouxe e dar, assim, mais qualidade de vida ao interior do concelho.
Graficamente muito bem apresentado, com muita ilustração a cores, o livro – que foi coordenado pela Arq. Paula Cabral (Directora do Departamento de Requalificação Urbana, verdadeira alma e motor de todo este projecto) e pela Dra. Maria João Monteiro (Chefe da Divisão de Áreas Urbanas Degradadas) – dá conta de como, na conferência, o tema foi abordado pelos mais variados especialistas. As causas, a evolução e as cicatrizes que deixaram na paisagem os loteamentos ilegais do espaço rural em torno da Grande Lisboa; a construção clandestina e a auto-construção como consequências também dos movimentos migratórios de gentes da província para aqui; as desvantagens e as vantagens do caos urbano; os instrumentos jurídicos aplicáveis à reconversão e reestruturação desses espaços… O Arq. Francisco Keil do Amaral moderou a mesa-redonda «O lugar do outro» (significativo tema) cujo conteúdo pode ler-se nas páginas 212-244.
Completa o volume um CD, «documentário» de 25 anos de reflexão sobre assunto bem premente nos nossos dias.
E, como arqueólogo, foi-me grato rever, em letra de forma, o plano gizado pelo Arq. José Alves Bicho (p. 164-181) com vista ao correcto enquadramento da villa romana de Freiria, um dos processos mais exemplares e mais sofridos, que dura há mais de 20 anos; e também o Plano de Salvaguarda de outra villa romana, a do Alto do Cidreira, em Carrascal de Alvide (p. 263).
Um volume que constitui – inclusive pelo acervo de documentação gráfica que apresenta – um vade-mécum para profunda reflexão e memória a não perder!

Publicado no Jornal de Cascais, nº 255, 23-02-2011, p. 6.

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