Custa-me voltar a escrever sobre este assunto, por ele ser por de mais conhecido e haver – por parte do Povo – a consciência generalizada de que este movimento tem, inevitavelmente, a continuar assim, um fim bem complicado de gerir.
Fui aos «assuntos pendentes» a que me agarro de quando em vez, aquele rol de temas que nunca perdem actualidade, e deparei com uma nota de imprensa de 8 de Abril do ano passado que reza assim:
«O secretário de Estado do Orçamento, Emanuel dos Santos, admitiu ontem que a corrida às reformas na função pública está a criar problemas de falta de pessoal em alguns sectores do Estado, como é o caso da "classe dirigente". No ano passado, o Estado perdeu 310 dirigentes em relação ao ano anterior, depois de os cargos de chefias já terem sido significativamente emagrecidos com a reforma do Estado, no início da legislatura anterior».
Outro dia, um colega meu, no meio da conversa sobre a nossa actividade, disse-me do seu espanto por uma das técnicas do seu serviço – um serviço público – lhe ter retorquido que não poderia marcar as provas para as quinze horas, porque a sua hora de saída era às dezasseis e não poderia, assim, secretariar (como habitualmente fazia).
Razão da inesperada informação: o extremo rigor que as suas chefias estavam a impor, coarctando liberdade de acção que dantes havia para «desenrascar» (palavra comum nas nossas vidas, em que não se ligava muita importância aos horários quando havia serviço a fazer e nem se reclamavam horas extraordinárias, porque a ‘elasticidade’ e o sentido de responsabilidade imperavam). «Se é assim que querem, assim se faz, pois então!...» – perorou ela.
Outra das ideias engendradas pelos teóricos da desumanizada tecnocracia imperante é a chamada rotatividade: todos os técnicos devem saber de tudo e, por isso, de vez em quando, até para não criarem maus hábitos, há que ir mudando neles. Assim como quem muda o móvel para dar outro ar à sala!... E a Josefa respondeu-me, quando eu, admirado, lhe perguntei porque saíra da secção onde ela sabia mais de olhos fechados que todos os outros de olhos bem abertos:
‒ Não saí, mudaram-me!... Olhe, professor, mas é por pouco tempo, não se preocupe! No dia a seguir em que me fizeram isso, sem terem, antes, sequer falado comigo, eu também nem falei com eles e… pus os papéis para a aposentação!
Publicado no Jornal de Cascais, nº 252, 02-02-2011, p. 6.
quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011
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