sexta-feira, 17 de maio de 2013

Uma luz ao fundo do túnel?

            Gostaria de acreditar que, na presente conjuntura (estou a escrever a 27 de Fevereiro de 2013), haveria hipótese de ver uma luz a dizer-nos, ao fundo do túnel, que alguma esperança subsiste. Não tenho, porém, convicção nenhuma a esse favor.
            Na verdade, tanto em Portugal como na Europa do Sul, os juros da dúvida externa são de tal modo pesados que, a manter-se o paradigma político vigente, as medidas preconizadas têm efeitos contrários aos que visam alcançar: o aumento dos impostos leva, inexoravelmente, à fuga ao fisco como único meio de subsistência; diminuir os ordenados implica diminuição do poder de compra e, consequentemente, menor consumo e menos receitas fiscais. Exemplo paradigmático é o do aumento para 23 % do IVA nos restaurantes, que levou ao encerramento de milhares de estabelecimentos, com todo o cortejo de males daí resultantes e que são evidentes para o senso comum.
            Esse, o primeiro problema dos Portugueses: não compreendem porque é que os ‘governantes’ não ouvem o ‘senso comum’ e se regem, em exclusivo, por teorias neoliberais hauridas em manuais universitários e desgarradas da realidade portuguesa (inteiramente diversa da dos países do Norte da Europa ou mesmo da Europa Central).
            O segundo problema: até nem se importariam de fazer sacrifícios, se não vissem que as dificuldades foram criadas por lobbies financeiros (caso do BPN, por exemplo), cujos responsáveis permanecem impunes. De facto, se assim não fora, o Português saberia governar-se bem; e já está, aqui e além, a dar a volta por cima, dedicando-se, nomeadamente, à agricultura em novos moldes. Talvez por aí, sim, haja uma luz ao fundo do túnel; e, felizmente, todos os dias temos informação de promissoras experiências, como a do aproveitamento, no Algarve, das figueiras da Índia…
            Terceiro problema: o País está a envelhecer, mas nada se faz para promover o aumento da natalidade e parece não se compreender que, neste momento, são os ‘velhos’ que – com as suas pensões (por menores que sejam) – estão a suportar as despesas com pais (ainda mais velhos), com filhos (desempregados) e com os netos! O corte brutal nas pensões, ainda por cima oneradas com pesada taxa de solidariedade (!), trouxe enorme descontentamento e a maior desconfiança. Os resultados eleitorais de Itália são disso prova cabal: o Povo não acredita nos políticos!

Publicado em Portugal-Post – Correio luso-hanseático [Hamburgo], nº 53, Maio de 2013, p. 20 (central, também com tradução em alemão).
 

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