Lembrei-me
disso, ao ler a ementa: «Lavagante da costa atlântica com emulsão balsâmica de
toranja», «tornedó de novilho salteado com foie gras trufado e creme de
morilles», «dôme de baunilha recheada com avelã»… A dôme era mesmo isso: uma cúpula,
como a de S. Pedro, bonita de ver e gostosa de saborear; quanto ao trufado era
o tornedó e não o delicioso foie gras, porque o rodeavam lascas de apetitosas
trufas, a que não resisti; sobre o significado de ‘morilles’ interroguei os
companheiros de mesa, que diligenciaram numa explicação que não entendi muito
bem, pelo que ora fui investigar: são cogumelos muito especiais, cuja
designação parece não ter uma tradução precisa para português; que o seu creme
se recomenda, isso sim!
Foi
o jantar acompanhado pela actuação – nem sempre em fundo – dos Citizen’s Band, dos
Cat Green & Strangle Fellas e dos Dynamite, assim como de um suave branco
alentejano e de um encorpado tinto do Douro, que nos prepararam para o
champanhe ‘brut imperial’, de cave bem famosa, com que, trincadas as doze sultanas
ao bradar da meia-noite, brindámos ao novo ano, tchim-tchim, companheiros,
saúde!...
Repleto,
o Salão Preto e Prata do Casino Estoril.
O espectáculo
Encantou,
claro, Carlos do Carmo. A partir da meia-noite e três quartos. Mui gostosamente
o fomos acompanhando, em reportório de todos bem apreciado. Contudo, importa
dizer que, se apreciámos os fados e até pedimos mais um, assim como se aplaudiu
com calor os seus convidados Marco Rodrigues e Raquel Tavares, o virtuosismo de
um José Manuel Neto, à guitarra portuguesa, é do melhor que se pode escutar,
porque o guitarrista acompanha, sim, mas dá largas ao seu dedilhar, como que parte
à desfilada por esses vales e montes além, trinando alegre, para, no momento exacto,
voltar ali, à serenidade do acompanhamento puro. Um espectáculo dentro do
espectáculo! E Camané foi (ou não…) apanhado de surpresa: se queria vir até ao
Salão Preto e Prata tinha de… pagar! E desceu, a pedido, lá da patilha de cima
onde se acoitara, discreto. E que bem que pagou! Não apenas a duo com Carlos do
Carmo, como acontecera com os outros dois fadistas, mas – tal como eles –
também a solo, na voz quente, sem adstringência (!), com que nos brindou.
E
continuando nesta onda de ‘continente’ e de ‘conteúdo’, acrescentar-se-á que
era exíguo o continente para os pares que se decidiram por um pé de dança. O
palco, desta feita, não recuou nem baixou, mas todo o espaço disponível, aqui e
além, foi bem aproveitado para, num balançar ritmado, se afastarem pensamentos
menos apropriados ao celebrar a alegria de um renascer de esperança! Que se
viva em 2015!
Publicado em Cyberjornal, edição de 03-01-2015:
Sem comentários:
Enviar um comentário