Confesso a minha ignorância,
que nunca tal houvera escutado! Regressado a casa, apressei-me a ir ao Google. Lá estava, em apropriada
linguagem:
«A chief executive officer (CEO) is
generally the most senior corporate officer (executive) or administrator in
charge of managing a for-profit organization».
Se bem entendo, é o
que, em linguagem, se chama de Director Executivo, o respons ável-mor.
E
não é que, desde esse dia para cá, os CEO me caem na sopa? Tudo é CEO, minha
gente! E eu também quero ser, pois então, que não sou menos que eles! Cê-i-ou!
– topas?! E o senhor presidente da Câmara também há-de ser CEO e o senhor
presidente da Junta e o dono do supermercado ali da esquina…
Outro
dia, pedi a uma empresa portuguesa, gestora de um espaço cultural, que
incluísse um amigo meu na sua mailing list
(perdoe-me, leitor, o barbarismo, mas, como candidato a CEO, eu tenho de
começar a usar essa terminologia, claro, se não chumbo no exame!...).
Respondeu-me por escrito um senhor que tinha sob o nome: «CEO & editor»!...
Mas,
se calhar, pensando bem, é melhor não me candidatar ao cargo. Já há tantos!
Prefiro manter-me cá na base da escala, independentemente de uma qualquer «for-profit
organization». É melhor!
A solução suicida
Não valeria a pena
eu também falar neste assunto, porque já o senhor presidente da Câmara conseguiu
que os respons áveis compreendessem a
asneira que estavam a fazer. Mas acho que vale a pena – que isto de água mole
em pedra dura não faz mal, se se lograr furar melhor uma consciencialização geral.
Estou
a referir-me, é bem de ver, à ideia suicida de se diminuir o número de comboios
da linha de Cascais, precisamente na altura em que os senhores de Lisboa até
querem (e fazem muito bem!) que a gente não vá de carro poluir a capital, cujo
céu cinzento bem se descortina daqui, a contrastar com o (ainda) azul céu de
Cascais.
E
tens tu, perguntarão, alguma coisa contra o suicídio? És o CEO da CP, és? Não
sou. Mas não gosto que as empresas se suicidem, porque nunca se suicidam
sozinhas, as almas do Diabo, e levam atrás de si uma cat refada
de gente.
A
questão, muito simples, é esta: se tens menos comboios, há menos passageiros,
menos vontade de os usar e… vai-se perdendo o hábito. E eu vejo o que se passou
comigo: tenho duas carreiras da Scotturb (de e para a vila) que param mesmo
diante da minha porta. A princípio, ainda adquiri cadernetas de pré-comprados e
comecei a utilizar esse bem cómodo transporte público. Pouco a pouco, porém,
dei em perder comboios ou a ter que apanhar um autocarro meia hora antes,
porque nunca se sabia a que horas iria passar. Horários (parecia) não eram para
se cumprir à risca e também a frequência das passagens diminuiu. Então ao
sábado e ao domingo, passa um é lá quando é…
Ora,
se a oferta de comboios não servir, o pessoal começa a buscar alternativas. A
solução é muita outra, em circunstâncias
idênticas – e eu creio que os senhores CEO depressa o verão: não há passageiros?
Promove-se a adesão dos passageiros! Fazem-se campanhas! Mostra-se que o
comboio é que é bom, até para ir aos concertos, para ir ao teatro e ao cinema.
Que é barato, amigo do ambiente. Até facilita o convívio (se diminuírem os
auscultadores do isolamento…). Aliás, não tinha até música ambiente? E não vai
aquecidinho? Que é que se quer mais?
Portanto,
em vez de diminuir, o número de comboios devia era de aumentar, para que pudéssemos
usufruir mais de tão agradáveis vantagens!
Claro,
para isso é necessário investimento! Mas a cartilha por onde estudaram os
senhores CEO não tinha vários capítulos que tratavam do investimento, das suas
vantagens e técnicas?
Aplauda-se,
pois, o empenho do senhor presidente. Deviam ter falado com ele antes, deve
ter-se queixado. É uma queixa que todos nós temos, Amigo, os que não somos CEO:
quantas decisões se tomam em cima do joelho, só porque sim, porque acho bem e
não me apetec e ouvir ninguém!...
Publicado em Costa do Sol – Jornal Regional dos Concelhos de Oeiras e Cascais,
nº 77, 28-01-2015, p. 6.
Jose Martins Colaço:
ResponderEliminarPor favor José, desiste de ser CEO, continua assim... humano. È que os CEO, repara bem, andam sempre indispostos com a vida, pensam muito em números e, pior ainda, sofrem de ansiedade à espera que seja criado outro grau para aumentar a sua ostentação.
Elisabete Garcia:
ResponderEliminarCambada de CEOs!
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarJúlia Fernandes:
ResponderEliminarPois é, à falta de outra qualificação, ser ceo é o melhor que se pode arranjar nos dias de hoje...