quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Também quero ser CEO!

             Admirei a solenidade com que o João anunciou o senhor que ia intervir na cerimónia de apresentação do foral de Cascais restaurado. Era um… CEO! E o João pronunciou bem: cê-i-ou!
            Confesso a minha ignorância, que nunca tal houvera escutado! Regressado a casa, apressei-me a ir ao Google. Lá estava, em apropriada linguagem:
            «A chief executive officer (CEO) is generally the most senior corporate officer (executive) or administrator in charge of managing a for-profit organization».
            Se bem entendo, é o que, em linguagem, se chama de Director Executivo, o responsável-mor.
            E não é que, desde esse dia para cá, os CEO me caem na sopa? Tudo é CEO, minha gente! E eu também quero ser, pois então, que não sou menos que eles! Cê-i-ou! – topas?! E o senhor presidente da Câmara também há-de ser CEO e o senhor presidente da Junta e o dono do supermercado ali da esquina…
            Outro dia, pedi a uma empresa portuguesa, gestora de um espaço cultural, que incluísse um amigo meu na sua mailing list (perdoe-me, leitor, o barbarismo, mas, como candidato a CEO, eu tenho de começar a usar essa terminologia, claro, se não chumbo no exame!...). Respondeu-me por escrito um senhor que tinha sob o nome: «CEO & editor»!...
            Mas, se calhar, pensando bem, é melhor não me candidatar ao cargo. Já há tantos! Prefiro manter-me cá na base da escala, independentemente de uma qualquer «for-profit organization». É melhor!

A solução suicida
            Não valeria a pena eu também falar neste assunto, porque já o senhor presidente da Câmara conseguiu que os responsáveis compreendessem a asneira que estavam a fazer. Mas acho que vale a pena – que isto de água mole em pedra dura não faz mal, se se lograr furar melhor uma consciencialização geral.
            Estou a referir-me, é bem de ver, à ideia suicida de se diminuir o número de comboios da linha de Cascais, precisamente na altura em que os senhores de Lisboa até querem (e fazem muito bem!) que a gente não vá de carro poluir a capital, cujo céu cinzento bem se descortina daqui, a contrastar com o (ainda) azul céu de Cascais.
            E tens tu, perguntarão, alguma coisa contra o suicídio? És o CEO da CP, és? Não sou. Mas não gosto que as empresas se suicidem, porque nunca se suicidam sozinhas, as almas do Diabo, e levam atrás de si uma catrefada de gente.
            A questão, muito simples, é esta: se tens menos comboios, há menos passageiros, menos vontade de os usar e… vai-se perdendo o hábito. E eu vejo o que se passou comigo: tenho duas carreiras da Scotturb (de e para a vila) que param mesmo diante da minha porta. A princípio, ainda adquiri cadernetas de pré-comprados e comecei a utilizar esse bem cómodo transporte público. Pouco a pouco, porém, dei em perder comboios ou a ter que apanhar um autocarro meia hora antes, porque nunca se sabia a que horas iria passar. Horários (parecia) não eram para se cumprir à risca e também a frequência das passagens diminuiu. Então ao sábado e ao domingo, passa um é lá quando é…
            Ora, se a oferta de comboios não servir, o pessoal começa a buscar alternativas. A solução é muita outra, em circunstâncias idênticas – e eu creio que os senhores CEO depressa o verão: não há passageiros? Promove-se a adesão dos passageiros! Fazem-se campanhas! Mostra-se que o comboio é que é bom, até para ir aos concertos, para ir ao teatro e ao cinema. Que é barato, amigo do ambiente. Até facilita o convívio (se diminuírem os auscultadores do isolamento…). Aliás, não tinha até música ambiente? E não vai aquecidinho? Que é que se quer mais?
            Portanto, em vez de diminuir, o número de comboios devia era de aumentar, para que pudéssemos usufruir mais de tão agradáveis vantagens!
            Claro, para isso é necessário investimento! Mas a cartilha por onde estudaram os senhores CEO não tinha vários capítulos que tratavam do investimento, das suas vantagens e técnicas?
            Aplauda-se, pois, o empenho do senhor presidente. Deviam ter falado com ele antes, deve ter-se queixado. É uma queixa que todos nós temos, Amigo, os que não somos CEO: quantas decisões se tomam em cima do joelho, só porque sim, porque acho bem e não me apetece ouvir ninguém!...

Publicado em Costa do Sol – Jornal Regional dos Concelhos de Oeiras e Cascais, nº 77, 28-01-2015, p. 6.

4 comentários:

  1. Jose Martins Colaço:
    Por favor José, desiste de ser CEO, continua assim... humano. È que os CEO, repara bem, andam sempre indispostos com a vida, pensam muito em números e, pior ainda, sofrem de ansiedade à espera que seja criado outro grau para aumentar a sua ostentação.

    ResponderEliminar
  2. Júlia Fernandes:
    Pois é, à falta de outra qualificação, ser ceo é o melhor que se pode arranjar nos dias de hoje...

    ResponderEliminar