quinta-feira, 31 de março de 2016

Escrever sobre Cascais

     Confesso-me perturbado. E peço desculpa por, num momento em que as perturbações deveriam ser pelos motivos muito mais graves que afectam a Europa e o mundo, eu ouse perturbar-me também com uma aparente ninharia. Cedo meus pais me ensinaram, porém, que é das pequenas coisas que acabam por se fazer as grandes.
      E volto, por isso, àquela dissertação de mestrado, sobretudo por o seu autor residir no concelho e até fez voluntariado em programa da Geração C. Não saber que o presidente da União de Freguesias Cascais – Estoril é conhecido como Pedro Morais Soares e chamar-lhe António Soares?! Um pormenor de somenos, dir-se-á; mas creio ser sintoma de uma distracção que dificilmente se aceita. Como a de haver obtido o grau de Mestre em Administração Pública, mediante a análise do papel exercido pelas freguesias do concelho de Cascais em relação ao Estado e à Sociedade, e não referir no seu trabalho um único livro sobre esse concelho!...
      Pasmei.
      E dei comigo a interrogar-me, sabendo que Cascais se situa, seguramente, entre os dez concelhos do país com mais publicações sobre todos os aspectos da actividade dos seus habitantes e instituições: será que o aconchego da sala de leitura do Museu-Biblioteca dos Condes de Castro Guimarães não foi substituído a contento? As publicações não estão acessíveis? Não há divulgação?
      Sim, já não temos a Livraria Municipal e o recanto que ora há com essa função na loja da Casa das Histórias Paula Rego passa despercebido; mas tanto a Livraria Galileu como a Livraria RG pugnam por ter livros sobre Cascais! E não há as bibliotecas?
      Eram dúvidas a mais e, por isso, quis saber como está o processo de disponibilização ao público, em geral, e aos estudiosos, em particular, o muito que sobre Cascais já se estudou, consubstanciado em muitos milhares de páginas impressas!

Aí vai o que logrei saber
      Primeiro, na Biblioteca da Casa da Horta, há uma sala expressamente dedicada ao Fundo Local, onde estão acessíveis esses livros e, de modo especial (convém não esquecer!), as colecções dos órgãos de comunicação local e regional. Sim, os jornais! O autor daquela dissertação teórica queixou-se de que nada ficara a saber, por exemplo, do que se fazia em Cascais, limitando-se a observar que havia exposições “para a população sénior”. Só para a população sénior? E não há publicações? Caso lhe tivessem dito que, para conhecer a vida local, precisava de folhear a imprensa local e regional, certamente a sua visão teria sido bem diferente!...
      Depois, a outra biblioteca municipal, a de S. Domingos de Rana, disponibiliza, igualmente, informação adequada sobre a freguesia e o concelho.
      Finalmente, enquanto se aguarda a abertura da Casa Sommer, em frente à igreja matriz, que vai funcionar como verdadeiro centro de investigação, a dar azo à elaboração de muitas dissertações e teses de real valia, há a página do município na Internet: www.cm-cascais.pt . Aqui vão, desde já, algumas pistas, dado que, à primeira vista, uma pessoa pode perder-se no emaranhado de janelas que ali se lhe abrem.
      Até é simples: seis temas à escolha apontados logo ao cimo – município, território, família, cidadania, cultura e lazer, emprego. Interessa-nos ‘cultura e lazer’. E essa janela abre-nos novas perspectivas: Arquivo Histórico, Bibliotecas, Museus, Património Histórico e Cultural, por exemplo. A hipótese História constitui brevíssima síntese; a Livraria Municipal, ainda que proporcione já algumas pistas, está a reservar-se para o que poderá vir a fornecer na Casa Henrique Sommer, com a Livraria Digital on line, a ser realidade a partir do Dia Mundial do Livro, 23 de Abril; e no campo Bibliotecas será, de futuro, assaz significativo o papel a desempenhar pela Biblioteca Digital de Cascais, em fase de instalação.
      Dir-se-á também, e esse é um aspecto nada despiciendo, que a equipa de técnicos adscrita a todas essas tarefas trabalha com entusiasmo e inteira disponibilidade, o que muito nos apraz registar.
      Meios, portanto, não faltam. Assim os potenciais utentes os queiram agarrar!

                                          José d’Encarnação
 
Publicado em Costa do Sol Jornal, nº 133, 30-03-2016, p. 6.

1 comentário:

  1. Ana Teresa, 2/4 às 22:18:
    Professor: Será que a culpa se atribui só ao aluno? Que papel teve o seu orientador, só de leitor final? É que na minha tese cheguei a ter que apagar e fazer totalmente novo um capítulo, porque a minha orientadora até a pontuação nas notas de rodapé mandava corrigir. Mesmo assim, esse aluno custa-me a crer que resida neste concelho, pela total ignorância do que se passa a nível autárquico, e da disponibilidade para se estudar e tratar de temas locais. Se era trabalhador-estudante, então poderia ter "sacrificado" os sábados para pesquisar nas (excelentes) bibliotecas do concelho, que eu bem conheço. Eis a parte que lhes dediquei nos agradecimentos da minha tese: "A todos os funcionários da Biblioteca da Câmara Municipal de Cascais pela paciência e ajuda prestada na busca de livros, em especial dos Reservados." MAS, diga-se de passagem, nem o(s) seu(s) arguente(s) estava(m) bem preparado(s). Esta pessoa terá sido passada à pressa ou dissimuladamente?

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