sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

As nossas fontes revisitadas

             Ainda me lembro: veio o senhor Governador Civil, a banda tocou à sua chegada e, quando abriu a torneira, estralejaram foguetes e bateram-se palmas. A aldeia passou a ter água ali à mão de semear, sem necessidade de ir além abaixo, ao pé da ribeira, tirar a água do poço. A cena passou-se no interior do concelho, nos princípios da década de 50, mas estou convicto que muitas idênticas houve, então, por todo o País.
            E o chafariz, singelo, em ferro forjado, ou mais imponente, de cantaria, com torneira para encher cântaros e infusas, donde escorria água para, do outro lado, o bebedouro dos animais e, daí, para os tanques de passar e de lavar do lavadouro vizinho – era o único monumento de que a aldeia doravante se poderia orgulhar.
            S. Brás de Alportel teve fontes, que de abundante nível freático se abastecem. As bicas dos Vilarinhos representam, porventura, o exemplar mais significativo. E se toda a atenção é pouca para que esse nível – devido, por exemplo, a uma urbanização excessiva, a acarretar impermeabilização do solo – não venha a sofrer graves prejuízos, as iniciativas levadas a cabo pela autarquia no sentido de renovar e alindar essas fontes, enquadrando-as devidamente em aconchegados recantos de lazer são, pois, de muito louvar. Importa, porém, que continue a inocular-se na população o hábito de a eles se achegar e de, efectivamente, os usar, para que sejam, de facto, motivo de usufruto e regalo. Não será mau, nomeadamente, que se proporcione às crianças das escolas a ida à Fonte Férrea ou à Fonte Velha (a que mais recentemente se renovou), pois assim se ganham costumes.
            E se a Fonte Velha recebeu duas estrofes de Bernardo de Passos, a da Fonte da Tareja ostenta uma outra, do mesmo poeta alportelense:
 
                                               Não sei se cantam, se choram
                                               As fontes, correndo ao mar;
                                               Se canto, sinto que cantam;
                                               Mas, se choro, oiço-as chorar!

                                                                                              José d’Encarnação

Publicado em Noticias de S. Braz nº 219, 20-02-2015, p. 21.

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