quinta-feira, 3 de março de 2016

Craveiros-do-ar

             Não me canso. Por mais que diariamente os remire e acaricie, a sua vida deixa-me perplexo. Como logram sobreviver assim pendurados, sem terra nem água de rega?!... Sempre viçosos, já lhes roubámos filhotes, olham serenamente para o céu. Deixam-se baloiçar tranquilos, ao bafejar das brisas e, uma vez por ano, brindam-nos, sorridentes, com mimosas flores minúsculas…
            Que milagre vos sustenta, craveiros-do-ar?
            «Olhai os lírios do campo! Como eles crescem! Não trabalham nem fiam! Pois Eu vos digo: nem Salomão, em toda a sua magnificência, se vestiu como qualquer deles!...» (Mateus, 6, 28-29) – soa-me inevitável, o eco dessa Voz vinda do fundo dos tempos!...
            Por mim, eu ousaria sugerir:
            ‒ Mestre, fale dos craveiros-do-ar! Não são tão efémeros como os lírios e a lição seria mais eloquente ainda, Senhor!
            Transcorremos as jornadas em lufa-lufa constante, água a esgueirar-se-nos por entre os dedos, «Vamos, depressa, não há tempo a perder, mexe-te!»…
            E os craveiros-do-ar, imperturbáveis, vivendo do ar, vêem a nossa correria e nada precisam de dizer. A sua presença basta para nos recordar outra Presença, paterna, eficaz, a instilar confiança – imperturbável também!
                                                              José d'Encarnação

Publicado em Boletim Salesiano, mar/abr 2016, p. 34
Craveiro-do-ar em floração

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5 comentários:

  1. Até a falar de botânica transpira poesia! Admiro profundamente!!

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  2. Francisco Ramalho Claré 3/3 às 17:13
    Estão tão bonitos, compadre! Merecem essa nota fantástica.

    Margarida Lino 3/3 às 17:27
    Não conhecia estes cravos-do-ar. Como sabes, nasci e fui criada numa quinta cheia de cravos e rosas, entre outras flores lindas, mas esta variedade realmente nunca tinha visto. Qual é a sua origem, sabes? bjs

    Marici Magalhaes 3/3 às 17:36
    Mais uma linda nota José d'Encarnação! Pois é, a natureza necessita de tão pouco para ser bela e feliz...

    Ana Carvalho 3/3 às 17:47
    Tenho a mesma admiração...´´´´´

    Julia Fernandes 3/3 às 18:05
    Há uns parecidos nos Açores, mas não dão flor e picam...

    Maria Manuela Baptista 3/3 às 19:01
    São lindas e a flor, um espectáculo! Um beijo!

    Fernando Machado 3/3 às 19:51
    Subscrevo. Sempre me fascinaram essas plantas!

    Vera Araújo Soares 3/3 às 20:13
    Eu também tenho, mas até agora não floriu. Amei. Emoji heart

    Norma Musco Mendes 3/3 às 20:29
    Muito lindos. Merecem esta bela nota!

    Aurora Martins Madaleno 3/3 às 20:39
    Será que no Médio-Oriente há craveiros-do-ar?

    Ana Paula Silva Costa 3/3 às 21:10
    Também tenho. Emoji wink. Só que ainda não me brindaram com as flores.
    Vou continuar a cuidar com o amor de sempre. Emoji smile. Um dia destes vão-me surpreender, tenho a certeza disso.
    Um beijinho

    Ana Maria Coelho 3/3 às 21:35
    Também tenho um, fico admirada como rebentam e ficam lindos.

    Maria Manuela Campos 3/3 às 22:49
    Só os de folha mais longa dão flor, tenho as duas e de folha pequena não dá.

    Ana Paula Silva Costa 4/3 às 1:08
    Obrigada pela informação Maria Campos, os meus são de folha pequena, daí não ter sido contemplada Emoji wink Gostava de ter os de folha mais longa, sabe indicar-me onde encontrar?

    Maria Mendes 3/3 às 23:27
    Tenho um há muitos anos que trouxe da Madeira! É realmente admirável a Natureza!!!

    Ana Teresa 4/3 às 0:45
    Não estão dentro de um vaso? Onde os tem então? Nunca tinha visto nem ouvido sequer falar

    Ivone Tavares 4/3 às 12:56
    Será que fazem algo semelhante ao que faz o escaravelho do deserto? Coloca-se no topo das dunas para que a condensação se forme à noite sobre as costas e depois ao descer a duna a gota escorre para ele beber! Claro que terá que haver alimento agora como o fazem estas plantas?

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  3. Tomei a liberdade de incluir aqui todos de uma assentada os comentários que os meus amigos tiveram a gentileza de fazer no facebook. Ainda não me apercebera de haver duas espécies e, Ana Morgado, o espantoso é, de facto, a circunstância de estas plantas literalmente «viverem do ar»! Estão penduradas e alimentam-se, portanto, da humidade atmosférica e de partículas que sub-repticiamente colhem do ambiente e são, por isso, boas indicadoras do estado do ar. Compreendo a pergunta de Aurora Madaleno: eu também acho que, mui provavelmente, se os tivesse visto, Cristo os teria usado no seu sermão; provavelmente, não, pois, segundo os entendidos, a planta - Tillandsia aeranthos, de seu nome científico - é originária da América do Sul!
    Fiquei, pois, muito contente, por ter verificado, por um lado, que vários dos meus amigos, tinham cravos-do-ar e que outros, pela curiosidade que a nota lhes suscitou, estão com vontade de os ter.

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    1. A minha pergunta esperava, precisamente, essa resposta do Senhor Professor José d'Encarnação. Bem haja!

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    2. A minha pergunta esperava, precisamente, essa resposta do Senhor Professor José d'Encarnação. Bem haja!

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