Tem
a exposição primoroso Roteiro; mas o Dr Alberto Correia, um
dos dinamizadores da iniciativa, não
se ficou por aqui e para, de certo modo, acompanhar a exposição escreveu uma linda história, «A Avó Ceirinha».
Um
livro de capa rija e letras gordas, para que as crianças e os menos jovens o
possam ler sem dificuldade. Dedicado à sua avó Beatriz, «”ceireira” de nação », tem, na página da esquerda, ilustrações muito
bonitas de artefactos feitos neste tipo de material, a junça. Uma verdadeira
maravilha de gosto!
A
narração é feita por uma avó à sua
netinha; mas ousaria afirmar que há outras linhas que não a da história
propriamente dita sobre que importa reflectir, pelo que representam de uma
realidade a não olvidar. Assim, na pág. 11:
«Mas
quando a Virgínia nasceu já não se usavam as ceiras do azeite. E os ceireiros
mal conseguiam vender as ceirinhas, os tapetes e os ceirões porque as pessoas
passaram a usar outras matérias nas suas casas.
Muitos
homens foram então trabalhar para França. Uns na agricultura, outros nas obras
da cidade. Alguns já tinham ido uns anos antes e ajudaram os mais novos a arranjar
trabalho».
O
drama – assim mui singelamente retratado.
As
histórias atropelam-se umas nas outras (a da mulher «que matou um grande
lagarto com os novelos de linho que levava»…), e, no final, Gininha, a neta,
não se conteve:
–
Gostava de tanto de ter ido com o avô vender ceirinhas!...
E
«a avó pousou na cestinha o novelo de lã. Gininha não viu as duas lágrimas que
se soltaram dos olhos da avó.
Estava
quase a pôr-se o sol. E entraram ambas em casa, de mãos dadas, a avó e a netinha».
Um
encanto, este livrinho, para os jovens e para os menos jovens. Mais uma vez, a
prosa límpida e serena de Alberto Correia, com fotografia de José Alfredo, design
(magnífico!) de Sónia Ferreira. Edição
da Paróquia de Santa Cruz, Beselga, Penedono. Apoio do Município de Penedono.
Fala-se
muito de diálogo intergeracional, da necessidade de os avós terem tempo para os
netos. Ou melhor, de os netos terem tempo para ouvir os avós! Este «A Avó
Ceirinha» constitui mui excelente pretexto para esse diálogo se concretizar.
Estão,
obviamente, de parabéns e quantos tiveram a coragem de lhe prestar atenção !
José d’Encarnação
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