quinta-feira, 5 de julho de 2018

As desventuras de um tutor atrevido

             Há ensinamentos que a experiência nos dá. Por vezes, porém, somos de tal maneira atrevidos que ousamos fazer de conta que não aprendemos e… caímos na esparrela. Masoquismo, é bem de ver!
            Vem isto a propósito de os jornalistas locais teimarem – porque são condutores e andam na rua – em dar sugestões aos técnicos camarários que superintendem nas questões do trânsito. Nunca vale a pena. Os senhores estudaram. O trânsito é um dos domínios mais arcanos, porque se prende com a mobilidade, a segurança e, sobretudo, com as constantes novas teorias sobre urbanismo e espaços públicos. Os largos passeios que obrigam ao corte de faixas de rodagem derivam precisamente dessas novas teorias e Cascais nunca foi de ficar atrás. Sempre na vanguarda!
            Por conseguinte, sinto-me burro velho, casmurro até mais não, embora todas as vezes que a tentação me sobrevém, eu jure depois, a pés juntos, que não volto a falar de trânsito. Debalde garanto que é a última vez…
 
            1º) Acho que, na placa que antecede, a norte, a rotunda de Birre, não deveria estar indicado que, para se ir para o Cobre, se deve ir a direito. A direito, nunca mais se chega lá. Para o Cobre, vindo de norte, corta-se à esquerda.
 
            2º) Também se me afigura plausível a colocação da placa toponímica PAMPILHEIRA na Rotunda dos Bombeiros Voluntários. E assim se saberia que a Av. A. Amaro da Costa corta o bairro a meio: dum lado, fica a metade oriental (a do Hospital da CUF, do Centro de Distribuição Postal, da Controlauto, das oficinas de mecânica automóvel e da área comercial); e, do outro, a metade ocidental, mais sossegada, mais arborizada, por onde se ia para as pedreiras…
 
            3º) Considerou-se que era perigoso permitir o atravessamento da referida avenida no cruzamento com a Rua do Cobre e proibiu-se. Fez-se o gosto ao dedo das proibições, só por proibir, porque é zona que até tem boa visibilidade e uma rotundazinha em área urbana… não era por aí que o burro ia às couves (mais às couves vai – e perigosamente! – na entrada e saída do parque da CUF pela Eça de Queiroz, numa curva sem visibilidade…). Assim, o pessoal espreita dum lado, espreita doutro e… transgride, que não está para ir até ao engarrafamento da rotunda de Birre, que a gasolina anda pela hora da morte!... Pronto: fez-se o gosto ao dedo e, para se arramalhetar (como dizia meu pai), pespegou-se a meio da descida a placa STOP, a fim de se dar prioridade a quem vem da Júlio Dinis. E ele há aí cada travagem!... Cada levar as mãos à cabeça, que é um louvar a Deus! Pedi que pusessem mais salientes aqueles refreadores de velocidade ou um STOP bem pespegado no chão. Qual quê! Nem resposta – que não deve o sapateiro ir além da chinela e, nos acidentes, os condutores que se danem!
            4º) Achei que quem entra na 3ª circular ido do Cobre não tem bem a noção do caminho para o Hospital (vai-se sempre num desaforo, já se sabe…) e é capaz de, por engano, enfiar pela A5 adentro. Bastava pintar HOSPITAL na placa lá no cimo. Mas… dá muito trabalho e… não vale a pena, senhor sapateiro! Importa-se de pôr meias solas neste meu par de sapatos?...
 
                                                                       José d’Encarnação
Publicado em Costa do Sol Jornal (Cascais), nº 241, 2018-07-05, p. 6.

 
 

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