quarta-feira, 18 de julho de 2018

O treinador da Tailândia

             O caso está ainda tão presente – e perdurará, sem dúvida, na memória do Mundo durante muito muito tempo… – que se torna impossível não me associar a quantos, nestes dias (estou a redigir esta crónica, no dia 11), escreverão sobre esse tema.
            Perdoar-se-me-á se, antes, volto atrás, também para explicar este forte impulso a tratar do milagre que foi o salvamento (impossível para os homens!) desses rapazes inesperadamente presos nas profundezas de uma gruta de repente tornada inacessível. É que, tinha eu escassos 35 anos, traduzi, emocionado, para a Editorial Verbo, o livro «Tante grazie a te, Simona», de Sandra Marini, a que, em português, se deu o título Obrigada, Simone! (1980). Era a história – ainda essas histórias não sucediam como hoje… – de uma professora que lograra manter serenas as suas criancinhas, reféns de um doido armado que lhes assaltara a escola.
            O caso (nessa altura, ficcionado) de Simona marcou a minha vida de professor; outras circunstâncias da minha vida pessoal, profissional e comunitária vieram demonstrar-me a importância fundamental do pensamento e da meditação, factor que foi decisivo (todos concordam) na operação ora bem sucedida na Tailândia.
            Sim, é lugar-comum, é frase-feita, é blábláblá… dir-se-á. Seja o que se quiser perorar. Os factos, porém, em cada um dos momentos do nosso dia-a-dia, não demonstram que o não é? E – uma vez que estamos também envolvidos no espectáculo do Mundial de Futebol – que é que se diz à boca cheia? Além da técnica, da estratégia, da força física, não é a força anímica o que o treinador procura inocular nos seus homens?
            Realce, pois, para a sabedoria oriental, chame-se-lhe Budismo, Taoismo, Hinduísmo… onde o Cristianismo foi também beber a sua doutrina. Realce para o que, na ascética, se designa «meditação» e, para o fim do dia, o «exame de consciência». Momentos essenciais. Expressões ‘estranhas’ no corrupio em que se nos vai a vida – se deixarmos!...
            Escuse-me, leitor (caso me tenha seguido até aqui…), se acrescento mais dum dado pessoal. Num período bem complicado da minha vida, há 40 anos, entregaram-me um livro que é, hoje, meu livro de cabeceira. Das muitas frases que nele sublinhei, esta partilho:
            «Escrevemos a história futura da nossa vida com os nossos pensamentos de hoje» (Emmet FOX, «Le Sermon sur la Montagne», Paris, 1974, p. 78).

                                                           José d’Encarnação

Publicado em Renascimento (Mangualde), 15-07-2018, p. 10-11

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