quinta-feira, 12 de abril de 2018

Camané canta Marceneiro

            Constitui sempre um bom acontecimento o facto de se projectarem sessões de fados nalguma das salas do concelho de Cascais.
            Será saudosismo da minha parte esta afirmação, porque vivi com alguma intensidade os anos 60, quando Cascais era, noite afora, o «fado fora de portas», designadamente em Birre e também na Torre e nós íamos ao Estribinho (depois, D. Rodrigo) ouvir a Teresinha Tarouca, o Manuel de Almeida, o Rodrigo (claro!) e tantos outros! Na vila, era o Arreda (com o saudoso Chico Stoffel!...) e também o Estoril não ficava atrás.
            Congratulo-me, por isso, com o concerto, previsto para o próximo sábado, a partir das 22 horas, no Salão Preto e Parta do Casino Estoril. Primeiro, porque o Camané representa, a meu ver, aquela fase de transição entre o fado à maneira antiga e o fado da nova geração: não deixou de ter esse estilo dos anos 60 e soube envolver fados em roupagens de agora. Depois, porque, nesse espírito, andou muito bem ao agarrar no património que Alfredo Marceneiro nos legou.
            O serão de sábado poderá ser, pois, assaz agradável encontro para duas gerações!

                                                           José d’Encarnação

Publicado no Cyberjornal, 2018-04-11:

quarta-feira, 4 de abril de 2018

O catedrático regressou às origens

             Não, não vou escrever sobre esse, que é equiparado; escrevo sobre um verdadeiro, que o é desde 05-06-1991 e que, tendo-se aposentado, largou a Lusa Atenas e demandou o lugar de Calvos, na freguesia de Sarzedas (Castelo Branco), onde nasceu a 19 de Outubro de 1945. Exacto: João Lourenço Roque, que foi docente de História na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.
Em sítios assim, corriam
as palavras e os sonhos
que eram só nossos...
            Uma vida, agora, de agricultor e de aldeão empenhado, que mensalmente vai retratando nas crónicas que envia para o Reconquista, de Castelo Branco. Retratos d’alma, retratos das gentes, apontamentos das vidas, reflexões que o dia-a-dia lhe proporciona… Pelos seus escritos perpassam os nomes de vizinhos e de familiares, conta-se dos muitos que vão fenecendo numa região privada de juventude… Os nomes: a prima Alice, o Ti Luís, a prima Maria Rosa... Não há já quem queira, na maior parte dos jornais locais, ter a secção de necrologia, seguramente a mais lida de todas; e João Lourenço Roque não hesita, também por isso, consciente ou inconscientemente, em dizer o nome de quem saudosamente partiu.
            O ciclo da aldeia. O varejo da azeitona, a apanha dos tortulhos, o voo da cotovia, o primeiro sinal do cantar do cuco (ai, os tortulhos «cuquedos» que já não prestam!…)… O desejo de um melhor viver para anciãos e não só. Os poços que são ratoeira e que importava sinalizá-los ou vedá-los. As noites de lobisomens, as bruxarias. O ronronar das gatinhas meigas, uma companhia quando outras já vão faltando. A importância enorme dos animais domésticos. As moças bonitas da cidade («Teus olhos é que me matam!»). As festividades tradicionais.
            O mundo está, todavia, ali. Não apenas os versos de António Salvado ou as letras dos fados de Ana Moura, mas a tragédia do Chapecoense, o horror da estrada de Pedrógão Grande, a busca dos pokemons, o Marcelo que aparece agora todos os dias…
            Se, ao longo das páginas destas «Digressões Interiores 2» (edição de Palimage, 2017), com 59 crónicas, de 2011 a Julho de 2017, João Roque não hesita em empregar a típica terminologia aldeã – atitude de muito aplaudir! – o certo é que não resistiu a, na crónica 52 (p. 219-222), esboçar eloquente glossário de termos próprios dali. «Chicolate», «braboleta», «linterna» serão, por exemplo, formas que noutras regiões se encontrarão, como deformação oral, mas quem há aí que saiba que escamunguer é estragar ou que infoucedo é… um fraco? O que o Povo sabe!...

                                                                                José d’Encarnação

Publicado em Renascimento (Mangualde), nº 728, 01-04-2018, p. 11.

 

quarta-feira, 28 de março de 2018

O prefeito dos artífices

            O exercício de um cargo político representa sempre uma grande aprendizagem. Se, no dia-a-dia de uma empresa ou, até, nas relações familiares, se reclamam tacto e bom senso, para, à noite, se lograr sono repousante, a política, como gestão da cidade e dos cidadãos, implica toda uma atenção ao pormenor, ao gesto, à palavra dita e por dizer. Para além, obviamente, dos aspectos técnicos próprios de cada actividade. Poderá imaginar-se que o ministro ou o secretário de Estado da Cultura ou os respectivos assessores apenas necessitarão de conhecer, o melhor possível, os meandros por onde a Cultura se movimenta; nada mais errado, reconhece-se, porque há toda uma engrenagem económica, financeira e social que importa ter em consideração.
            Um complexo saber «de experiências feito», como o do Velho do Restelo, que dia após dia superiormente se enriquece. Não admira, pois, que, acabada a «comissão de serviço» – assim se costumava chamar e como tal o entendiam os Romanos –, amplos caminhos se abram para que o político experiente possa continuar a aplicar a sua sabedoria nos mais diversos ramos de actividade, nomeadamente o económico. Por isso há tanta gente a querer ir para político. O que lá se aprende!...
            Ao sair de ministro ou de secretário de Estado, ao senhor engenheiro ou ao senhor dr. surge toda uma rica panóplia de oportunidades, que passam, de um modo geral, pela administração de empresas, inclusive aquelas que alguma vez foram públicas, pois são essas as mais próximas dos esquemas oficiais. E também, obviamente, pelo Ensino, para mais facilmente poderem transmitir o que aprenderam. Assim Mário Soares, após ter saído da política activa, numa das faculdades da Universidade de Coimbra.
            O problema põe-se com mais acutilância no que se refere aos municípios. ¿Que fazer dos vereadores cujos mandatos findaram? ¿Onde vai pôr-se essa dezena de assessores que, por gozarem da nossa total confiança, nós contratámos, em princípio apenas para serem nossos assessores? Bem, a questão dos assessores resolve-se: abre-se concurso propositadamente para esse efeito e tudo fica garantido. Questão maior é a dos vereadores ou dos presidentes de junta. Também para isso se encontrou solução: em vez de concentrar em si todos os serviços, a Câmara cria empresas municipais. Uma para o lixo, outra para o trânsito e as ruas, outra para as coisas da Cultura (sim, ponho com maiúscula, lixo e trânsito não ponho…), outra para as obras, outra para gerir os parquímetros… Exacto, os parquímetros foi uma das melhores invenções do final do século! Máquinas de fazer dinheiro. E havia que saber gerir esse dinheiro, essas empresas. A inserção nos respectivos conselhos de administração antoja-se, por conseguinte, como aplicação eficaz para fazer render talentos qualificados. E a palavra «render» surge aqui naturalmente, porque é ponto de honra para empresa que se preze atingir (ou, até, ultrapassar) os objectivos económicos fixados. Na verdade, cada empresa tem a sua contabilidade própria e se adrega a polícia municipal arrecadar dinheiro de multa aplicada a veículo doutra empresa municipal que o funcionário deixou, por momentos, mal estacionado, não há que olhar para trás! E se, mesmo em serviço, se se tem de pôr o carrinho de serviço, devidamente identificado, num parque com parquímetro (e hoje é raro o que os não tem), há que pagar, não há livre-trânsitos disponíveis!...
            Pensaram os cérebros dos cifrões e da eficácia que haviam descoberto a forma inovadora de rendibilizar outros cérebros e outras competências. Enganaram-se. Para quem, no tempo dos Romanos, seguiu com reconhecido êxito uma carreira municipal – e, note-se, na altura, não havia um presidente, havia dois e com direito de veto e o mandato era de um ano apenas! – abria-se a possibilidade de ascender à carreira equestre. Para isso, porém, passava por uma fase de aprendizagem, como ajudante de campo de uma personalidade importante, que o ia integrando na máquina político-administrativa. Chamava-se prefeito dos artífices, em latim o praefectus fabrum. «Artífices» eram todos os que bem sabiam manobrar… as artes, todas as artes!
      Veja-se esta inscrição achada em Lisboa e datável do século I da nossa era. Lúcio Cornélio Boco, natural de Alcácer do Sal («salaciense»), depois de ter sido eleito (também por apenas um ano) flâmine da província da Lusitânia, ou seja, promotor da devoção religiosa ao imperador (que o era por vontade dos deuses…), foi prefeito dos artífices por cinco vezes! Não que essa repetição se tivesse ficado a dever a dificuldades suas na aprendizagem, mas sim à excepcional competência demonstrada, dado que outras inscrições o confirmam para os membros da mesma família. Passa de seguida à carreira equestre, tendo sido nomeado tribuno da VIII Legião Augusta. O monumento foi mandado erigir por decreto dos decuriões, isto é, por deliberação da assembleia municipal de Lisboa (note-se!), prova do interesse em estar de bem com ele, agora que outros e mui vantajosos voos o esperavam…
De facto, assim é: «nada de novo sob o Sol»! Ou, como proclamava o nosso Gil Vicente, «Así se hacen las cosas» – como quem tem medo de o dizer em português!

                                                                            José d’Encarnação

Publicado em Costa do Sol Jornal (Cascais), nº 225, 2018-03-28, p. 6.

sábado, 24 de março de 2018

Retalhos lusos em pano da Índia

             Uma das mais curiosas sensações que tive ao chegar a Londres e ao ver quantos comigo se cruzavam foi a variedade dos vistosos panos que as indianas envergavam. E aquela pintinha na testa, sinal da casta a que a sua portadora pertencia, tinha o condão de nos fazer sonhar com um tempo antigo, em que também por lá Portugal deixou raízes. O senhor que, de rosa vermelha em punho, nos aborda ao jantar no restaurante, «qué flô?», representará, porém, outra face da mesma medalha.
            Falei da Índia a um condiscípulo meu goês. E contou-me:
            ‒ Eu vim para Portugal em 1957; o meu pai foi o 1º português a ser expulso da Índia, nessa altura de Bombaim, por ser estrangeiro, português. Desde 1949 que a União Indiana queria expulsar tudo o que fosse civilização ocidental, depois da expulsão dos Ingleses, que possibilitou a independência da União Indiana, ou seja, nessa altura, a união da Índia com o Paquistão, o actual Bangladesh, o Tibete, o Butão e o Sri Lanka. Infelizmente, Goa não se soube impor. O meu pai bem quis e Salazar retorquia-lhe: «F., eu sei que Goa está apta a ter autonomia, mas dar-lha seria abrir um precedente!». Assim, ficámos à mercê dos indianos. E os goeses foram engolidos. Hoje, a cultura goesa em Goa não existe. Foi uma invasão e a destruição da cultura dos goeses. Os académicos, "vendidos" aos partidos, não falam sobre esta realidade.
            Estava a ouvi-lo e lembrava-me de Sousa Lara me ter contado que, quando lá foi, em 1992, integrando, como Secretário de Estado da Cultura, a comitiva de Mário Soares, um senhor de idade o convidou a ir a casa dele e mostrou-lhe, escondidos numa arca, os livros antigos, aqueles por onde nós estudámos na Instrução Primária:
            ‒ Guardo-os aqui ciosamente, sabe. E é por eles que eu ensino a língua portuguesa aos que a querem aprender!
            Sousa Lara acabaria por mandar enviar-lhe muitos mais livros para ele poder continuar a sua nobre missão de manter acesa a chama da portugalidade nessa longínqua paragem.
            E recordei as imagens que Maria Júlia Fernandes fez em Baçaim, no Convento dos Agostinhos em ruínas: o chão da nave principal da igreja era um mar ininterrupto de lápides funerárias, com os nomes de portugueses ilustres e brasões de famílias nobres e tudo isso iria, daí a pouco, ficar debaixo de sólida camada de cimento…
            Também esses são retalhos lusos em manto indiano. E quando, a 10 de Dezembro de 2017, no âmbito da série «Um poema na vila», iniciativa de Ana de Freitas, se ouviram, no Auditório José Labaredas do Museu Municipal de Coruche, «Contares e Cantares de Goa», pelo Grupo Ekvat da Casa de Goa, voltámos a ter consciência disso: urge fazer reluzir esses retalhos no manto indiano. Raízes escondidas que poderão frutificar!
                         José d'Encarnação


Publicado em Ponto & Vírgula, jornal do Gabinete de Imagem e Comunicação da Escola Calazans Duarte, da Marinha Grande, edição de Março de 2018, p. 19.                                     

Gentileza de Elisabeth Le Paige: a fotografia a que se refere
no comentário que tomei a liberdade de transcrever infra.
O monumento que assinala, em Calecute, o local onde
desembarcou Vasco da Gama, aquando da chegada à Índia, em 1498.
                                                                      

segunda-feira, 19 de março de 2018

Foi tocante a cerimónia

            De novo o Espaço TEC, em Cascais, abriu portas para dar azo a mais uma exposição que ficamos a dever, de modo especial, a João Vasco. O consagrado actor resiste aos convites de Carlos Avilez para representar, para voltar ao palco, e prefere, no aconchego dos seus aposentos, programar sabiamente exposições sobre momentos e personalidades que marcaram a vida do seu Teatro Experimental de Cascais.
            Amália se celebrou agora. E foi deveras tocante a cerimónia, quase ao cair da tarde de sábado, 17. Muitos admiradores de Amália e do TEC, a senhora que acompanhou Amália nos últimos tempos, os estudantes da Escola Profissional de Teatro de Cascais (EPTC)… O senhor presidente da Câmara também fez questão em estar presente, assim como a Dra. Catarina Marques Vieira, comissária para a Cascais Capital da Juventude, pois que também esta iniciativa pode inserir-se nas actividades que marcam a juventude em Cascais.
            Começámos por ouvir FF – um dos ex-alunos da EPTC que hoje se guindou já a boa plana no mundo do espectáculo e da canção. Deliciou-nos, em voz quente, com o fado Gaivota, numa interpretação muito aplaudida. Ouvimos depois poemas que são letras de fados, ditos por actores da companhia. Ouvimos gravações da Amália, acompanhadas pelos estudantes da Escola. Carlos Avilez referiu três outros vultos que simultaneamente se evocam na exposição: o actor Jose de Castro e dois dos maiores fotógrafos de Amália – Silva Nogueira (1892-1958), que a fotografou de 1942 a 1954, e Maria Luísa Gomes (1953-2006), que superiormente a fotografou depois.
            Recorde-se que, como se relata na folha explicativa distribuída na ocasião, esta celebração pretende comemorar o 30º aniversário da recital que Amália realizou, a pedido do Teatro Experimental de Cascais, a 18 de Setembro de 1987, cujos proventos se destinaram a financiar o custo da estátua a José de Castro que viria a ser erguida em Paço d’Arcos. Foi necessário, na altura, «abrir as portas da rua do Teatro Mirita Casimiro, para que o público que não conseguira entrar pudesse ouvir a voz mágica de Amália».
            Agora, não foi necessário abrir as portas, que elas se mantiveram abertas; mas a emoção que pelo Espaço se espalhou não se conteve ali e saiu portas afora, no abraço saudoso à nossa Fadista! E no abraço, evidentemente, a todos quantos estiveram na preparação e concretização de tão feliz iniciativa.
 
                                                                       José d’Encarnação

Publicado em Cyberjornal¸ 2018-03-19:

Quatro dos instantâneos colhidos pela oportuna objectiva
de Maria Luís Gomes. Um primor! A alma surpreendida!

«Um Adeus Infinito», de Filipa Oliveira Antunes

            30 quadros. Podem admirar-se até 16 de Abril, na Galeria de Arte do Casino. «Podem» talvez não se me apresenta como o termo adequado; melhor será «devem», porque é sempre de admirar a primeira exposição individual de uma artista sorridente, nos seus maduros 45 anos, já com doutoramento feito em Urbanismo (2013), depois da licenciatura em Arquitectura pela Universidade de Lisboa (1996) e do mestrado em Arquitectura da Habitação pela Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica (2000).
            Não tem parado desde que se formou – na docência universitária, na ilustração de peças para a Vista Alegre e para livros pedagógicos. Descobrimo-la no recente Salão de Outono do Casino Estoril e logo nos apercebemos de que algo de especial dali poderia advir. Por isso, a direcção da galeria não hesitou em prontamente lhe facultar a possibilidade de uma exposição individual. E bem andou.
            Vive como fundo das suas telas (trabalha muito sobre folha de algodão) essa alma arquitecta nos volumes bem desenhados. Reproduzo dois desses quadros a título de exemplo.
            Sentem-se, num, os chalés do Monte Estoril e aquela palmeira esguia espicaça-nos a curiosidade: eu já a vi, mas onde está? Há um trecho do paredão, mas a praia e o mar tingem-se de vermelho, amarelo e verde… E tudo está pintalgado, como se a artista tivesse querido despejar arrastados pingos de tinta para os envolver de cor. E, a dominar tudo, um olhar perscrutante, atento, dominador – a incitar-nos a ver melhor, mesmo que, em baixo, se tenha a sugestão de umas pálpebras fechadas, em meditação...
            O outro quadro que mostro tem Simonetta de nome. Quem é ninguém o explica. Nome de tempestade ainda não foi. Apostaria que é, de novo, o olhar de Filipa Antunes a espraiar-se pelo azul da costa cascalense, as algas assumem-se em primeiro plano e há riscos brancos a varrer o horizonte. Uma nuvem se adensa ao fundo. E se casas são, as da costa, de negrura se vestem, a contrastar com a chapada de luz a rasgar o céu e a espelhar-se, resplandecente, numa réstia de água…
            Apetece sentar-se na sala, em contemplação demorada. No silêncio, deixando a Beleza inebriar-nos.
                                                                       José d’Encarnação

Publicado em Cyberjornal¸ 2018-03-19:

A Casa do Artesão

             Os responsáveis pela agenda cultural São Brás Acontece passaram largos meses a visitar artesãos, pessoas reais que ainda mantinham a tradição de fazerem empreita ou moldarem o barro de acordo com os saberes ancestrais que haviam herdado de seus avós.
            Louvei, em devido tempo, essa bem meritória iniciativa e guardo religiosamente os exemplares da agenda que disso se fizeram mui louvável eco.
            Custa-me ver, por exemplo, uma Feira do Artesanato do Estoril, criada em 1964, na sequência do Mercado de Abril que se realizava em Belém, onde, hoje, só há praticamente o chamado «artesanato urbano», indiferenciado, e se deixaram de convidar os que fazem os bonecos de Estremoz (hoje Património Cultural da Humanidade) ou uma Rosa Ramalho, que dava continuidade à típica louça de Barcelos. Custa dinheiro a sua deslocação das terras de origem e, por isso, essa Fiartil (com ressaibos internacionais…) deixou de ser o reclame para a louça de Molelos e de Bisalhães ou para as bilhas de Nisa.
            Artesanato autêntico moldado à maneira tradicional consolida saberes e mostra como os antigos sabiam fazer das tripas coração e assim aproveitavam tudo quanto a Natureza gratuitamente lhes oferecia: o esparto, a palma, o vime…
            Consolou-me, pois, saber que se inaugurara, a 20 de Janeiro, p. p., «em pleno coração da vila», a Casa do Artesão, com a finalidade expressa de «apoiar o artesanato e a produção local», na certeza de que, desta sorte, se iria criar também «um novo pólo de interesse turístico». Sim, criar-se-á, de facto, se se seguirem à risca as linhas da tradição; se se incentivarem os jovens a calcorrear as pisadas de seus avós; se à tradição – a manter – se aliar, aqui e além, um toque de modernidade aliciante.
                                                           José d’Encarnação

Publicado em Noticias de S. Braz [S. Brás de Alportel] nº 256, 20-02-2018, p. 13.