segunda-feira, 19 de março de 2018

«Um Adeus Infinito», de Filipa Oliveira Antunes

            30 quadros. Podem admirar-se até 16 de Abril, na Galeria de Arte do Casino. «Podem» talvez não se me apresenta como o termo adequado; melhor será «devem», porque é sempre de admirar a primeira exposição individual de uma artista sorridente, nos seus maduros 45 anos, já com doutoramento feito em Urbanismo (2013), depois da licenciatura em Arquitectura pela Universidade de Lisboa (1996) e do mestrado em Arquitectura da Habitação pela Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica (2000).
            Não tem parado desde que se formou – na docência universitária, na ilustração de peças para a Vista Alegre e para livros pedagógicos. Descobrimo-la no recente Salão de Outono do Casino Estoril e logo nos apercebemos de que algo de especial dali poderia advir. Por isso, a direcção da galeria não hesitou em prontamente lhe facultar a possibilidade de uma exposição individual. E bem andou.
            Vive como fundo das suas telas (trabalha muito sobre folha de algodão) essa alma arquitecta nos volumes bem desenhados. Reproduzo dois desses quadros a título de exemplo.
            Sentem-se, num, os chalés do Monte Estoril e aquela palmeira esguia espicaça-nos a curiosidade: eu já a vi, mas onde está? Há um trecho do paredão, mas a praia e o mar tingem-se de vermelho, amarelo e verde… E tudo está pintalgado, como se a artista tivesse querido despejar arrastados pingos de tinta para os envolver de cor. E, a dominar tudo, um olhar perscrutante, atento, dominador – a incitar-nos a ver melhor, mesmo que, em baixo, se tenha a sugestão de umas pálpebras fechadas, em meditação...
            O outro quadro que mostro tem Simonetta de nome. Quem é ninguém o explica. Nome de tempestade ainda não foi. Apostaria que é, de novo, o olhar de Filipa Antunes a espraiar-se pelo azul da costa cascalense, as algas assumem-se em primeiro plano e há riscos brancos a varrer o horizonte. Uma nuvem se adensa ao fundo. E se casas são, as da costa, de negrura se vestem, a contrastar com a chapada de luz a rasgar o céu e a espelhar-se, resplandecente, numa réstia de água…
            Apetece sentar-se na sala, em contemplação demorada. No silêncio, deixando a Beleza inebriar-nos.
                                                                       José d’Encarnação

Publicado em Cyberjornal¸ 2018-03-19:

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