Não
tem parado desde que se formou – na docência universitária, na ilustração de peças para a Vista Alegre e para livros
pedagógicos. Descobrimo-la no recente Salão de Outono do Casino Estoril e logo
nos apercebemos de que algo de especial dali poderia advir. Por isso, a direcção da galeria não hesitou em prontamente lhe facultar
a possibilidade de uma exposição individual.
E bem andou.
Vive
como fundo das suas telas (trabalha muito sobre folha de algodão) essa alma arquitecta
nos volumes bem desenhados. Reproduzo dois desses quadros a título de exemplo.
Sentem-se,
num, os chalés do Monte Estoril e aquela palmeira esguia espicaça-nos a
curiosidade: eu já a vi, mas onde está? Há um trecho do paredão, mas a praia e
o mar tingem-se de vermelho, amarelo e verde… E tudo está pintalgado, como se a
artista tivesse querido despejar arrastados pingos de tinta para os envolver de
cor. E, a dominar tudo, um olhar perscrutante, atento, dominador – a
incitar-nos a ver melhor, mesmo que, em baixo, se tenha a sugestão de umas pálpebras
fechadas, em meditação ...
O
outro quadro que mostro tem Simonetta de nome. Quem é ninguém o explica. Nome
de tempestade ainda não foi. Apostaria que é, de novo, o olhar de Filipa Antunes a espraiar-se pelo azul da costa
cascalense, as algas assumem-se em primeiro plano e há riscos brancos a varrer
o horizonte. Uma nuvem se adensa ao fundo. E se casas são, as da costa, de
negrura se vestem, a contrastar com a chapada de luz a rasgar o céu e a espelhar-se,
resplandecente, numa réstia de água…
Apetece
sentar-se na sala, em contemplação
demorada. No silêncio, deixando a Beleza inebriar-nos.
José d’Encarnação
Publicado em Cyberjornal¸ 2018-03-19:
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