Não
é novidade nenhuma esta ideia de dominar o pensamento. Ou melhor, de tomar
consciência do valor do pensamento e de como nós, amiúde, o não sabemos
aproveitar.
Bem
conhecida é aquela passagem do «Principezinho», de Saint-Exupéry, quando a
raposa propõe ao príncipe que passem a encontrar-se a uma hora certa. E explica-lhe:
é que, sabes, assim, eu, meia hora antes ou mais, já estou a antegozar o prazer
do nosso encontro!... Cá está! O poder do pensamento!
Admiro-me
quando me dizem: Ah! Isso é matéria que tu dominas bem, vais lá, vinte minutos
de conversa e pronto! Muito simples!... Muito simples? Vinte minutos? E os
longos minutos que, bastantes dias antes, tu levas a pensar no que vais dizer,
mesmo que só te lembres disso de vez em quando? Tomas um apontamento agora,
outro amanhã…
Outro
dia, na sessão de homenagem a um amigo, o promotor garantia-nos que uma das
características do homenageado era a da ubiquidade! Como assim? Não é a
ubiquidade uma prerrogativa divina? E explicou: «É que nós imaginamos que ele
está aqui, ao pé de nós, de corpo e alma. Não está, garanto eu! O corpo, sim,
mas o espírito, o pensamento? Já está a pensar qual vai ser o tema do seu
próximo artigo!...». Ora toma!
E,
num retiro que fiz em 1966, não resisti a escrever como comentário à frase «Não
mates o tempo»: Quanto tempo se esvai nos nossos autocarros, em devaneios sem
nexo!…
Vês?
Não gritaste «Ó màrraistaparta!» e ganhaste imensa serenidade!
José d’Encarnação
Publicado em Renascimento
(Mangualde), nº 727, 15-03-2018, p. 11.
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