Os seus promotores escreveram na
badana que pretendiam, com este caderno, «iniciar uma homenagem aos poetas
populares deste País, cuja sensibilidade está profundamente marc ada, há séculos, pela nobreza de um produto de
eleição como é o vinho».
Ao todo, 18 poemas, em folhas
soltas, de papel pardo, resultantes de um ‘concurso de poesias alusivas ao
vinho promovido pela Adega Cooperativa de Mangualde’, em 1992.
Não voltei a ter notícias da
iniciativa. Se teve, ou não, continuidade. Pela minha parte, gostaria que sim.
Primeiro, pela originalidade da promoção ;
depois, pela nobreza do objectivo: dar aos poetas ditos populares uma
oportunidade de assim manifestarem a sua inspiração .
Poderá haver detractores. Que não se
deve incrementar o consumo do vinho, dirão. Retorquirei com o conhecido
argumento: não faz mal beber vinho, o que faz mal é beber de mais. Como não faz
mal apanhar sol, o que preju dica é
apanhar sol em demasia. Amiúde se esquecerá, também neste domínio, a sabedoria
do Povo: «nem oito nem oitenta!». E quando, ao final da tarde, após longo e bem
soalheiro dia de trabalho, os trabalhadores do campo se aju ntavam
na taberna, antes de irem para casa, e bebiam o seu copito e um, mais
inspirado, dava o mote e logo os demais arrancavam no cante… era um bonito
sol-pôr nas terras alentejanas!...
Improvisava-se, por vezes; e, na
verdade, alentejano e algarvio que se preza (e estou a lembrar-me do Aleixo e
de tantos Aleixos que há por i, só conhecidos da vizinhança…) não hesita em dar
largas ao seu modo de fazer quadras a eito!
Como não recordar, por exemplo, o
programa «Lugar ao Sul», que Rafael Correia manteve durante muito ano, aos
sábados de manhã, na Antena 1!... Ia o repórter por essas terras além, parava
aqui, parava ali. Um era hábil na gaita de beiços; outro contava em verso a
história de Portugal, de fio a pavio!... A alma do Povo assim posta a nu, na
sua autenticidade. E se adregava brindar com um copito de três do tinto da
adega lá de casa, mais fluente era a cantoria…
José d’Encarnação
Publicado
em Renascimento (Mangualde), nº 726,
01-03-2018, p. 10.
Muito oportuna e justíssima a menção a Rafael Correia, o andarilho da rádio que durante três décadas captou tantos e belos retratos sonoros de um Portugal ignorado e subestimado.
ResponderEliminarBem-Haja!