quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Há gente muito mal intencionada!

             Mal intencionada e sempre descontente, de mal com a vida! Que diabo! Criam rugas na testa, dão azo a úlceras no estômago, insistentes dores de cabeça (cefaleias ou hemicranias, em linguagem técnica, que, de vez em quando, também a gente tem de mostrar que sabe dessas doenças…).
            Pois é. Lutou o pessoal por causa do caríssimo remédio para a hepatite C; luta longa, quase diária, mas… guerra vencida! E logo vieram os tais senhores: «Que sim, foi bom, mas podia ter-se evitado uma morte!». É como aquele pai a quem o filho diz «Podes assinar-me o ponto de matemática?». O puto apanhou 92 % e o pai, com voz de ameaço: «Para a outra vez, quero 100%, ouviste?». E o puto, que estava todo contente, até fora o melhor da turma, olhou para o pai «isto não vale mesmo a pena, velhos não percebem nada!».
            Pois é. «Olha, Manel, tá um lindo dia de sol!». E o homem remoca: «Mas prá tarde já dá chuva!».
            «Sol na eira, chuva no nabal» – proclama o adágio que é isso que o povo quer!
            Já começou o derrube do esqueleto arquitectónico no largo da estação de Cascais. «Já não era sem tempo, livra! Esta gente anda toda a dormir na forma! Se já se viu! O tempo que aquilo demorou!». Não era de deitar foguetes e de aplaudir? Não: há é que pô-los debaixo da canga, porque nunca se sabe o que vai sair dali e, se os louvamos, enchem-se como os balões e não há quem os agarre…
            Muita gente até é capaz de ir à missa dominical. Distraidamente, quiçá, lá ouve o sacerdote rezar, logo no começo do cânone: «Na verdade, é verdadeiramente justo, necessário e salutar dar-Vos graças, em todo o lugar e sempre, Senhor!». Agradecer – o contrário de estar, de contínuo, pronto ao remoque. Agradecer num sorriso distende os músculos, até à tez acaba por fazer bem!...

Essa história dos transportes
            Tenho um dossiê de 36 páginas intitulado «A verdade sobre a dívida das Empresas Públicas de Transporte – Origem, responsabilidades e os interesses que a mesma serve». Explicita-se concretamente:
            «E assim, ao longo de anos, foram os Governos fazendo obras através das empresas públicas mas sem as pagar, obrigando as empresas a recorrer crescentemente ao financiamento necessário, não só para pagar o investimento como também para pagar os juros desses empréstimos».
            Tudo uma embrulhada, está bem de ver.
            E o cascalense pergunta, a propósito do edifício da super-esquadra da PSP, ali sobre o passeio da Av. Adelino Amaro da Costa: «Está a obra parada, porquê?». E o vizinho explica: «O empreiteiro faliu». «E porque é que foi implantada às avessas, o alto para a rua e o baixo para as traseiras?». «Porque ninguém disso se apercebeu a tempo!». «Desculpa?!». «Sim, ninguém se apercebeu! Só muito mais tarde!». «Estás a mangar comigo e eu a ver!». «Não estou. Ninguém viu ou, se viu, assobiou para o lado». «Nem o senhor Arquitecto Troufa Real?». «Nem o senhor arquitecto».
            Assim essa das empresas de transportes. Ninguém vê. Ou se alguém vê…

 Houve um acordo de Londres
            Maledicências está visto. Não há gente que veja com olhos piedosos!...
            Por exemplo, essa de terem ido descobrir que, a 27 de Fevereiro de 1953, se celebrou em Londres um acordo acerca da dívida alemã de 32 biliões de marcos. Perdoou-se-lhe 50% (entre os que lhe perdoaram contam-se – pasme-se! – a Espanha, a Grécia e a Irlanda) e o restante foi escalonado em 30 anos; contudo, só em Outubro de 1990, o governo alemão emitiu obrigações para pagar; e foi estipulado (pasme-se de novo!) que o pagamento anual não poderia exceder a capacidade da economia.
            Tá visto: só um jornalista mal-intencionado era capaz de ir desenterrar os termos deste acordo. E agora, que a Alemanha está a ser tão condescendente!...

Publicado em Costa do Sol – Jornal Regional dos Concelhos de Oeiras e Cascais, nº 79, 11-02-2015, p. 6.

6 comentários:

  1. Lourenço Sousa:
    Só tu, amigo "Zé d' Encarnação"..... Disseste-me que já não querias ser, mais, "alfaiate"!!!.... Mas, se não for este "alfaiate" a dar no " toutiço" dessa gentinha.... quem será?? . . . Parabéns, ZÉ !!!!

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  2. Ana Colaço:
    "Estaladas" de informação... Tanta coisa em tão poucos parágrafos. Tanto da vida de todos nós em tão pouco tempo! Um texto que é uma tareia para nos pôr de pé, e cada vez mais atentos. Obrigada!

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  3. Sonia Carmona Antunes [11/2 às 18:41]:
    Sempre atento e a pôr-nos em sentido.
    Gostei imenso, caro Professor.

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  4. Eulalia Marques da Silva [11/2 às 22:49]:
    Muito bom!!!

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