Conta
miudamente o que foi a sua longa vida, mormente a dos últimos tempos, em que
«ficou coxo, quase cego, quase surdo». Ternura é o halo que da sua prosa mui delicadamente
se evola. Ternura sua pelo Pantufa, ternura do Pantufa para com toda a família,
sobretudo para a mãe do Vítor após a morte do marido.
E
ia eu pôr, como título desta minha crónica, «Animais, nossos amigos» ou, como
no título do livro de Alan Devoe, «Our
animals neighbors» (McGraw-Hill, Nova Iorque, 1953), que requisitei, quando
estudante, na Bibliotec a Americana, «Os
nossos vizinhos, os animais». Na verdade, só quem partilhar a vida com um cão
ou outro animal de estimação
compreende bem o que Vítor Barros descreveu.
Passeávamos,
no passado dia 18 de Dezembro, nas Ramblas, em Barcelona, quando a Ana me
chamou a atenção para um sem-abrigo,
que dormia abraçado a um cão como o nosso labrador, singela manta a cobri-los.
Também essa cena nos enterneceu. E ficámos a pensar nas vezes em que o
sem-abrigo até era capaz de passar fome para que o seu amigo a não passasse.
Foram
dados alguns passos já, a nível político, para aju dar
quem tem no seu animal a presença diária, a única presença diária, nomeadamente
na velhice. Mais importaria fazer, atendendo ao insubstituível papel que o cão
ou o gato desempenham no lar, inclusive do ponto de vista psicológico, como
elemento apaziguador de emoções. Já não falo nas CERCIs, onde, cada vez mais, a
presença de um cão devidamente educado exerce ímpar função
pedagógica. Os políticos – também eles têm cães e/ou gatos, aposto! – deveriam pensar
nisso.
Não
apresento condolências a Vítor Barros, porque o Pantufa cumpriu a sua missão. Felicito-o,
mais uma vez, por – com um exemplo vivo e sentido – ter chamado a atenção para uma indesmentível realidade.
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