Também
as salas das juntas de freguesia rivalizam pela apresentação de exposições,
habitualmente não divulgadas, privilegiando artistas seus fregueses, o que é de
muito louvar.
Mantém-se,
porém, o Casino Estoril como o grande espaço em que, a par do jogo, à Cultura
vem sendo dado lugar de relevo.
Não
falo já do espectáculo da passagem de ano, abrilhantado pelos irmãos Feist e
por Susana Félix, a que, a dado momento, vieram juntar-se José Cid e Paulo de
Carvalho. Música para começar na dança o novo ano, ainda que tenha sido mínimo
o espaço para quem desejasse desentorpecer as pernas.
Ao
jantar, degustaram-se acepipes a que os dizeres da ementa aliciavam: «tornedó
de novilho perfumado com foie gras»
e «molho de morilles com cepes secos»,
na carne, «esfera de chocolate negro com recheio de pistácio e morango», na
sobremesa. «Cepes» é um galicismo que designa os boletos, uma espécie de
cogumelos; morilles são cogumelos também,
do género morchella, silvestres,
raros e muito apreciados por renomados chefes de cozinha. Dir-se-ia, pela
amostra, que estávamos a voltar aos finais do século XIX e princípios do XX, em
que a culinária francesa dava cartas, as ementas eram «menus» e, nos hotéis,
havia o «scenseur… Também nesse
domínio a França perdeu o pé!
Voltando ao Salão Preto e Prata,
importa referir que, mais uma vez, foi cenário, na tarde do domingo, 7, do
Concerto de Ano Novo, pela Orquestra Sinfónica de Cascais, dirigida pelo
maestro Nikolay Lalov, o grande dinamizador das artes musicais no concelho.
O momento inicial: a primeira violino dá o tom; cada naipe vai respondendo e, pouco depois, durante segundos, é a algaraviada de sons... |
Desta feita, o mote foi o Amor, a
Paixão; e o maestro procurou explicar nesse âmbito a escolha do reportório que
fizera, consoante os amorosos enleios, desde a primeira abordagem – e aí
ouvimos o «Convite para a Dança», de Carl Maria
von Weber (1819), na orquestração de Hector Berlioz
(1841). A soprano portuguesa Rita Marques (natural das Caldas da Rainha)
deliciou-nos a cantar «Eu quero viver», de Charles Gounod, de que neste ano se
celebra o bicentenário do nascimento. E os enleios prosseguiram, na brincadeira
da polca «Tik-Tak», de Johann Strauss (filho), que
também divertiram os músicos; até que o casamento se consumou e ouviu-se, por
conseguinte, a Marcha Nupcial, do «Sonho de uma Noite de Verão», de Félix
Mendelsohn.
Na
2ª parte, já na vida a dois, embora o maestro tenha falado de que o autor de um
livro lido na sua ju ventude
escrevera «E depois casei e a minha biografia acabou!», o certo é que fomos
imaginando amorosas peripécias: no ‘intermezzo’ das 1001 noites (novamente J.
Strauss); na valsa sentimental de Tchaikosky; na jovial canção de Adele (Adele’s
Laughing Song), de J. Strauss, com que Rita Marques superiormente nos brindou e
a orquestra se esmerou deveras. E terminou-se pelo imprescindível passeio
romântico pelo Danúbio Azul… E os aplausos, de pé, do público que encheu o
salão ‘obrigaram’ o maestro a três números mais.
Houvera, porém, surpreendente
aperitivo no átrio do Casino: a bonita exposição das fotografias (de 120
fotógrafos) seleccionadas no concurso Bussaco das Quatro Estações. Um elegante
convite a que, embevecidos pelas belezas que essas objectivas tão oportunamente
souberam captar – do património paisagístico, da fauna e da flora, do
património arquitectónico e histórico –, os passantes parassem uns minutos e,
quiçá, se deixassem maravilhar por uma serra plena de sedução.
E
não se ficou por aqui o palco cultural do Casino, dado que, na quarta-feira,
10, no Salão Preto e Prata se apresentou o musical Simone de Oliveira, em que intervieram
a própria Simone, o FF, José Raposo, Maria João Abreu, Marta Andrino, Pedro
Pernas, Ruben Madureira, Salvador Nery, Sissi Martins e Soraia Tavares. O
tributo a uma Artista!
José d’Encarnação
Publicado em Costa do Sol Jornal [Cascais],
nº 216, 17-01-2018, p. 6.
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