Vem
daí a expressão popular «pôr a boca no trombone». Como num trecho musical, o
trombone só aparece para dar forte, assim, quando alguém se decide a pôr a boca
no trombone é porque se cansou de ciciar, de cantar ao ouvido, de mexer os cordelinhos
à puridade.
Muitos
exemplos há, recentes, de atitudes dessas.
Puseram
a boca no trombone as mulheres (e, agora, também os homens) vítimas de assédio
sexual. Houve já quem, mui ju diciosamente,
pôs água na fervura, nem tanto ao mar nem tanto à terra. A verdade não terá
sempre exactamente as cores com que a pintam e ainda outro dia, ao jantar, um
amigo meu fez uma carícia terna no rosto da esposa de um amigo comum, que
estava presente, e todos, à uma, em risota:
‒
Cuidado, que isso é assédio!...
Acho,
porém, que, por exemplo, no domínio da chamada «violência doméstica», muito
haverá ainda por fazer, porque não é só a pancadaria que conta, a violência
psicológica será muito mais frequente do que se pensa, aos mais variados
níveis. A necessidade absoluta,
custe o que custar, de atingir objectivos previamente determinados, sem olhar a
parâmetros circunstanciais que os poderão dificultar, não será violência
psicológica que deixa de rastos, quotidiana mente,
tantos e tantos funcionários?
Quando
exerci funções de respons abilidade
no Jornal da Costa do Sol, repetiam-se
cenas – que são comuns no quadro da Comunicação
Social, sobretudo local – de ‘má disposição ’
por parte de autarcas, por se ter posto o dedo na ferida de uma situação há muito por resolver. Aqui d’el-rei, «vocês podiam
ter-me contactado, que eu esclarecia!». Pois. Fizéramos diversas diligências e
não havia alguém disponível para esclarecer: pespegou-se a mazela no jornal e…
os senhores ficaram ofendidos!
Apetec eria recordar o que estipula o artigo 39º do
Código do Procedimento Administrativo:
«1.
Toda a correspondência, designadamente sugestões, críticas ou pedidos de
informação cujos autores se
identifiquem, dirigida a qualquer serviço será objecto de análise e decisão,
devendo ser objecto de resposta com a maior brevidade possível».
E
reza o ponto 2: «Sem preju ízo do
disposto na lei, no prazo de 15 dias deve ser dada resposta na qual seja
comunicada»: a decisão final tomada, a informação
intercalar ou «a rejeição liminar da
comunicação apresentada».
Exemplo
bem recente é o da Escola Superior de Dança. Fartaram-se os respons áveis de enviar ofícios, e-mails… Fartaram-se os alunos, fizeram greve, convocaram a Comunicação Social e… multiplicaram-se depois as reuniões,
agora já havia tempo, para se atamancar uma solução .
E
estoutra questão: o da iminente degradação
do espólio arqueológico subaquático. Multiplicaram-se as chamadas de atenção e… nada! Numa reunião de arqueólogos, uma técnica
da Direcção -Geral do Património Cultural
apresentou moção de censura, que foi
aprovada por larga maioria. Resposta da Direcção -geral:
processo disciplinar! E o mais interessante é a Direcção -geral,
perante a acusação de ter tomado uma
atitude claramente antidemocrática, ter vindo a terreiro afirmar que era
mentira, que não levantara o processo por isso, quando eu isso claramente lera
no auto. Fui publicamente chamado de mentiroso, mas não me ralei nada com isso,
porque as acções ficam com quem as pratica.
Estou
a redigir esta crónica em Londres, onde, nos transportes públicos – e cá toda a
gente privilegia o transporte público –, se lê, em grandes letras, nos painéis
digitais: «Se verificar que algo não está bem, não hesite em contactar-nos».
Recordo que, mesmo no Brasil, também nos transportes públicos e por toda a
parte, se apela à participação do
cidadão na denúncia de situações atentatórias da dignidade do Povo. Portanto, bem faz o maestro em chamar, de
vez em quando, os metais. Bem faz, no dia-a-dia, quem, corajosamente, no
cumprimento do seu dever de cidadania… põe a boca no trombone!
José d’Encarnação
Publicado em Costa do Sol Jornal [Cascais],
nº 219, 31-01-2018, p. 6.
Sem comentários:
Enviar um comentário