Olhavam para mim com ar de espanto e
eu explicava que a frase queria dizer o seguinte: se eles plantassem vinha,
ainda delas viriam a comer as uvas e a fazer bom vinho; se preferissem
castanheiros, mui provavelmente só os filhos deles comeriam as castanhas; e se,
ao invés, se dessem ao trabalho de plantar oliveiras, só os netos lhes
saboreariam as azeitonas.
O provérbio poderia ter hoje outra formulação , do género de «O eucalipto é meu; o
sobreiro do neto será!» – que é como diz: se eu me dedicar aos eucaliptos,
meninos, é atar e pôr ao fumeiro, ganho dinheiro num abrir e fechar de olhos;
se, pelo contrário, atender a essas ‘histórias’ da vegetação
autóctone, do que é bom para o solo e optar pelos sobreiros e azinheiras,
amigo, só meus netos delas tirarão cortiça e lograrão alimentar saudavelmente
os seus porquitos com bolota.
Essa,
a lição que, mais uma vez, o Prof.
Jorge Paiva, botânico da Universidade de Coimbra, nos dá no seu postal de Natal
deste ano. É o sobreiro a sua «árvore de Natal especial» – e ilustra a frase
com um sobreiro da Malhadoura (Parque Nacional da Peneda-Gerês), «cuja idade avançada
se revela com a semelhança da base do tronco e a rocha circundante».
Como,
«devido ao actual “Aquecimento Global”, Portugal está a ter verões mais
quentes, mais secos e de maior amplitude» e «as únicas árvores que temos,
capazes de suportarem estas novas condições, são, precisamente, os sobreiros e
as azinheiras», «é necessário repensar a floresta de produção e ordenar o país».
«Sobreiros
e azinheiras são árvores de cresci mento
lento e o ordenamento do território é muito trabalhoso e demorado», ainda que
«isso já tenha sido feito no Ribatejo e no Alentejo», onde «os montados de
sobro e de azinho demoraram dezenas de anos a formarem-se, mas hoje são rendíveis
e sempre com o mesmo número de árvores, pois, conforme vão morrendo, vão sendo
substituídas por outras».
Daí
o seu voto – que, evidentemente, partilho:
«Que
a época festiva do final do ano ilumine a consciência dos governantes e
políticos de Portugal de modo a não continuarmos a ter “piroverões”».
José d’Encarnação
Publicado em Renascimento (Mangualde),
nº 722, 1 de Janeiro de 2018, p. 11.
As fotos reproduzem o que o Professor Jorge Paiva incluiu no seu postal de Natal.
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