quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

Três Meses no Limoeiro

            Tem pugnado Fernanda Frazão, a responsável pela editora Apenas Livros, por dar a conhecer textos que caíram no domínio público e que se revestem, afinal, de um perene interesse. Vai vasculhando aqui e além e acaba por encontrar verdadeiras preciosidades.
            Assim aconteceu com Um Português Derretido (A Pitoresca História de D. Álvaro Pires de Castro, 1º Marquês de Cascais, a cuja edição, no ano passado, quis mui gentilmente associar a Associação Cultural de Cascais.
            Isso mesmo sucedeu agora com a história de Faustino da Fonseca (Angra do Heroísmo, 1871 – Lisboa, 1918), que, em Três Meses no Limoeiro, conta miudamente o que foi a sua permanência em tão sinistro calabouço, de 7 de Agosto e 6 de Novembro de 1896, preso por ter ousado criticar, em artigo publicado no jornal A Vanguarda, «a falta de prestação de contas da Câmara Municipal de Lisboa relativamente à subscrição nacional motivada pelo Ultimato Inglês».
            No texto preliminar, datado do Limoeiro a 24 de Outubro de 1896, queixa-se Faustino da Fonseca do seu «isolamento forçado» e, por isso, impedido de fazer outra coisa, entreteve-se a escrever «ligeiras notas», «sem nenhumas pretensões». Declara que vai expor «o que é a cadeia, o que foi, o que deveria ser» e acrescenta:
            «Colhi, compilei e publico dados estatísticos inéditos».
            Uma forma, confessa, de lembrar esses «três meses longos, fastidiosos, intermináveis, aborrecidíssimos».
            Aborrecido não vai ficar, porém, quem se der ao trabalho de o seguir nestas perto de 120 páginas, que se lêem de afogadilho.
            Congratulo-me, pois, vivamente com a mui válida iniciativa de Fernanda Frazão.

                                                                                  José d’Encarnação

Publicado em Cyberjornal, 2018-02-22:

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