sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Alemães e portugueses, diálogo com interrupções

Solicita-me Peter Koj um breve apontamento, no momento em que me informa que será este número, o 50º, o último em que exercerá as funções de chefe de redacção.
Nunca será de mais salientar o importante papel que Peter Koj tem desempenhado no estreitamento das relações entre a Alemanha e Portugal, não só porque a sua estada entre nós o levou a conhecer o Portugal profundo e por ele se apaixonou, como porque vive numa cidade em que as raízes e a presença portuguesas hoje se fazem sentir mais, decerto, do que noutra cidade alemã. É para mim um grande orgulho saber que foi comigo que Peter começou a aprender português, depressa se industriando no domínio de um vocabulário ímpar e na leitura sempre actualizada dos autores nossos contemporâneos. Foi, por isso, justamente galardoado, até porque, regressado a Hamburgo desenvolveu na cidade o mais amplo interesse pela cultura lusa nos seus mais diversos aspectos, nomeadamente literários, artísticos e musicais. Honra, pois, ao seu grande mérito!
Na actual conjuntura (estou a escrever dias antes das eleições em Portugal, determinadas pela chamada ‘crise’ que grassa por todo o sistema visceralmente capitalista em que o mundo se atolou), a Alemanha não é bem vista pelo português comum, o que é compreensível – atitude que porventura passará.
E se a Berlim dos nossos dias, no perfeito casamento (verbi gratia) entre a tradição e o futuro – de que a cúpula de vidro de Norman Forster sobre o edifício do Parlamento poderá apresentar-se como paradigma – nos alicia, quero, porém, dar dois dos muitos exemplos da minha experiência pessoal que me levaram a ter grande consideração pelos alemães:
– 1º) O alemão vem para Portugal e não faz como o inglês ou o francês, que insistem em falar nas suas línguas de origem e não se esforçam minimamente para aprender duas ou três frases que sejam do idioma português (afinal, a 5ª língua mais falada no mundo, segundo se diz). O alemão esforça-se, aprende e aprende bem!
– 2º) Um dos meus amigos, dono duma tipografia, comprou uma máquina na Alemanha. Houve qualquer problema e a máquina não funcionava. Vieram os representantes da marca em Portugal, operários e engenheiros; olharam, olharam, disseram que sim, de facto não trabalhava, o melhor era vir alguém da Alemanha. E vieram os engenheiros alemães. Vestiram o fato-macaco, arregaçaram as mangas, deitaram-se debaixo da máquina, sujaram as mãos e… já funciona, experimentem!

Publicado em Portugal-Post - Correio luso-hanseático (Hamburgo), nº 50, Novembro de 2011, p. 33-34 [versão portuguesa com tradução em Alemão].

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