sábado, 5 de novembro de 2011

Andarilhanças 22

Passeios alargados em Cascais
Sente-se que os actuais urbanistas muito prezam a convivialidade, o andar a pé, o evitar os automóveis. A ideia é boa, desde que não levada ao exagero e aplicada a torto e a direito. O caso da Av. Engº A. Amaro da Costa para norte do cruzamento do Cobre, onde a circulação pedonal é mínima, e mesmo o trecho inicial da Estrada da Malveira, a partir da rotunda de Birre, são exemplos desse exagero, que em devido tempo denunciámos; debalde, porque urbanista é urbanista e o cidadão, mesmo que veicule o senso comum, não passa de cidadão ignorante das teorias…
Hoje, porém, dois alargamentos merecem aplauso. O primeiro, o do troço de passeio entre o Pão de Açúcar e a entrada para o Parque Palmela. Era zona bem apertada, de muita passagem de pessoas, nomeadamente para o paredão, amiúde com água resultante da infiltração da zona ajardinada acima do muro de protecção. O segundo, em plena vila, o do passeio fronteiro ao Largo Cidade Vitória, na Alameda dos Combatentes da Grande Guerra. Ficaram mais aconchegadas as esplanadas dos restaurantes típicos e há agora largueza de acesso.

Penhas do Marmeleiro ou a necessidade de se estudar História!
Foi notícia, mais uma vez, a excelente reconversão em parque urbano do campo de tiro aos pratos, na margem esquerda do Rio Marmeleiro, a leste de Murches. Aí se inaugurou, no dia 23, o circuito pedestre já existente mas ainda não devidamente publicitado.
Oxalá que, desta sorte, ele possa vir a ser mais frequentado, exigindo também essa maior frequência mais cuidado na sua manutenção e vigilância.
Já em tempo oportuno solicitei às entidades responsáveis que corrigissem a distracção cometida por quem não estudou História nem teve o cuidado de se informar: é Marmeleiro (e não Marmeleira). Deve-se o topónimo ao curso de água que lhe passa aos pés, assim chamado por ser, outrora, zona rica em marmeleiros. Assim está designado na página do facebook, onde as Penhas contam com 647 amigos.
Demoraram os serviços camarários a mudar de Ponta para Pedra no caso do Centro Interpretativo instalado em S. Pedro do Estoril. Neste caso, a reivindicação tem mais de um ano. Vamos esperar – que a lentidão parece ser virtude!...

C
Prossegue a sua publicação quinzenal o jornal [«boletim»] chamado C (C de Cascais, C de Geração C…), propriedade da Câmara Municipal de Cascais. Recebemos na caixa do correio o nº 3, de 20 de Outubro, edição de Luísa Rego, 120 000 exemplares. O editorial não vem assinado, mas do seu teor se poderá deduzir ser da lavra de responsável do Executivo municipal. 24 páginas sem publicidade comercial nem informação sobre deliberações camarárias.

Festival de Música em risco?
Informou Rui Frade Ribeiro, no seu blogue «Pensar mais Cascais», no passado dia 26, que «em reunião plenária dos militantes do PSD de Cascais», o Dr. Carlos Carreiras anunciara, entre outras «linhas orientadoras para a redefinição dos investimentos municipais», que não se continuaria a financiar o Festival de Música do Estoril, atendendo ao «número reduzido de espectadores para estes espectáculos».
Salientando que, em seu entender, é papel da Câmara «apoiar iniciativas que permitam a diversificação da oferta cultural, especialmente na perspectiva de alargamento de públicos como são os casos da música clássica ou do bailado», comenta aquele ex-vereador da Cultura:
«É estranho que a mesma Câmara que financia espectáculos de Seal ou de Maria Rita, artistas com nome para encher uma sala de espectáculos com bilhetes pagos sem precisar de ajudas das entidades oficiais, recusa um apoio que este ano foi de 80.000 € para a realização do Festival de Música da Costa do Estoril.
Ao mesmo tempo que se propõe disponibilizar 250.000 € para um Festival de Cinema que se realiza em Lisboa, considera sem interesse um evento com mais de 30 anos de existência como é o Festival de Música da Costa do Estoril».

A tragédia grega
Depois de Barbershop, romance em que se retratam, em ironia fina, vidas singulares da burguesia nesta ocidental plaga lisboeta, quis Júlio Conrado brindar-nos com um livro de cordel (parabéns por ter também aderido a este formato em boa hora ressuscitado pela editora Apenas Livros.
Chama-se a Tragédia Grega (Lisboa, Fevereiro de 2011) e dá conta de uma situação deveras curiosa, em forma poética que é de prosa ou de prosa que é poesia à moda antiga, qual romanceiro – por tradição, em verso facilmente nos exprimimos.
Planeia-se um assassinato. No momento mais oportuno, para passar despercebido: quando milhões de portugueses estivessem de olhos pregados no televisor, pois Portugal defrontava a Grécia no final do Campeonato Europeu. Se Portugal ganhasse, o momento da grande euforia seria o ideal, ninguém daria por isso!
Vamos, então, matar! Está decidido!
Contratada está a experiência nunca desmentida do atirador, resta escolher o alvo. E aí está o busílis! O escritor quer liquidar tantos dos seus fantasmas!... O professor primário, o padre, a Nini, o cacique local, enfim!...
Borboleta de flor em flor, cheio de hesitações se mantém até final. E… a tragédia foi só no futebol! Grega, como as de outrora, em que o Destino era proclamado fatal pelo coro, ao longo de toda a peça. Bem, afinal também o escritor acaba por morrer!
De leitura fácil, jocosa, nas suas 20 páginas, acutilante no escalpelizar de atitudes e de situações, esta Tragédia Grega recomenda-se vivamente.


[Publicado no Jornal de Cascais, nº 288, 02-11-2011, p. 6].

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