terça-feira, 15 de novembro de 2011

O documento estava no portão do pátio!

Termino, com este apontamento, a série de três em que se deu conta de uma atitude assaz frequente e nem sempre devidamente tida em consideração: o reaproveitamento de materiais.
Sim, em tempos de crise – e em todos, aliás… – reaproveitar é palavra-chave presente no nosso quotidiano: deixou de ter utilidade, está ali à mão de semear e até nos serve às mil maravilhas? – Reaproveite-se!
Movimentos ecológicos e artísticos preconizam, por exemplo, o reaproveitamento dos plásticos para criar um quadro, uma escultura. E apostam nisso, didacticamente, as escolas desde o ensino pré-primário, a fim de se instilar no espírito da criança essa boa mentalidade que tinham nossos avós e que a sociedade de consumo deitou para trás das costas e… é o que se vê!...
A pedra com letras motivo de mais este apontamento foi também identificada por Luís Filipe Coutinho Gomes, que a estudou (é a inscrição nº 53 do nº 12, de 1985, do Ficheiro Epigráfico): uma estela de granito, «que servia de ombreira à porta de acesso a um pátio sito à direita do fontanário logo à entrada da povoação de Pinheiro de Tavares», na freguesia de S. João da Fresta. Foi guardada na sede da Associação Azurara da Beira.
Um tudo-nada estragado, devido à prolongada exposição aos agentes atmosféricos e à passagem das pessoas, constituía o texto o epitáfio de duas pessoas da mesma família: um filho de Triteu, falecido aos 30 anos, e Súnua, filha de Mearo, de 70. Cenão, filho de Triteu, mandou lavrar o epitáfio em honra do irmão e da mãe.
E assim se ficou a conhecer mais uma família indígena que adoptou hábitos romanos e cuja memória acaba de perdurar até aos nossos dias. Para isso serve a epigrafia, esse gravar em material duradouro a mensagem que se pretende transmitir aos vindouros. Mesmo deslocada do seu contexto primordial, acabou por ser encontrada e hoje se lhe dá o devido valor como singular documento histórico.

Publicado no quinzenário Renascimento [Mangualde], nº 581, 15-11-2011, p. 13.

1 comentário:

  1. Tao perto da minha terra e nao a conhecia!

    Por Pinheiro de Tavares passava uma via romana que vindo de Viseu seguia por Infias e Fornos de Algodres em direccao a Serra da Estrela e dai a Idanha-a-Velha (Egitanea).

    Bem haja pela divulgacao.

    Um abraco dalgodrense

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