terça-feira, 3 de julho de 2012

As grutas pré-históricas, património a valorizar!

         No momento em que o NASPE comemora 15 anos de actividade em prol da defesa do património cultural de S. Pedro do Estoril – parabéns! – lançar de novo o olhar para um dos seus monumentos mais significativos, a nível da sua história, parece-se-nos forma condigna de nos associarmos à comemoração.
            Na verdade, o pouco que resta das grutas artificiais que o Homem escavou na falésia, há cerca de cinco mil atrás, merece ser revalorizado.
Aquando da exposição «Blick, Mira, Olha!», patente no Centro Cultural de Cascais desde 12 de Novembro de 2011 a 12 de Janeiro, p. p., mostraram-se instantâneos fotográficos das investigações arqueológicas em que o Instituto Arqueológico Alemão participou e S. Pedro do Estoril ocupou aí lugar de destaque, tendo sido escolhida para capa do catálogo precisamente uma das fotos colhidas na falésia.
            Também na pequena Sala de Arqueologia do Museu dos Condes de Castro Guimarães, dedicada à Pré-história cascalense, aos objectos encontrados no decorrer das investigações da década de 40 foi dado o devido realce, não apenas pelo seu interesse histórico mas também pelo valor estético. São notáveis, por exemplo, as quatro espirais de ouro usadas, há cinco mil anos, como anéis; ainda guardava uma delas a falange do indivíduo jovem que a levara para a sepultura!… Os preciosos onze botões de osso (circulares, em forma de tartaruga ou ‘de carrinho de linhas’…) indiciaram, pela sua colocação, que o defunto fora sepultado envergando a peça de roupa (um casaco?) a que esses botões pertenceriam. As grandes taças de pé, de barro profusamente decorado, são também exemplares fora do comum em necrópoles datadas dessa época.
Tudo isso, enfim, nos mostra que os habitantes de então já detinham um estatuto económico e cultural fora do comum. E tudo isso, portanto, não se compadece com a ausência de mais atenção aos vestígios remanescentes no terreno do que foram os locais donde esses materiais provieram!
Nunca será de mais louvar a oportunidade da criação do Centro de Interpretação Ambiental da Pedra do Sal, por todas as valências que nele têm sido dinamicamente aproveitadas; contudo, não só uma periódica e mais assídua limpeza do ‘recinto’ da gruta que nele está incorporada (amiúde transformada em lixeira…) como também mais frequente evocação, através de iniciativas específicas, do que foi esse passado longínquo do lugar não se nos afiguram despiciendas – e seriam de muito louvar! A possibilidade de, numa vitrina, se exporem réplicas desses objectos passíveis, inclusive, de serem comercializadas, acompanhadas de breves e singelos textos explicativos, constituiria igualmente deveras significativa mais-valia. E S. Pedro do Estoril bem o merece!

[Publicado em Cai Água (Boletim do Núcleo de Amigos de S. Pedro do Estoril), nº 27, Junho 2012, 1ª pág.].

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