sexta-feira, 13 de julho de 2012

Noite magnífica de sedução e encantamento!


            Os cerca de 200 melómanos que resolveram ir até à igreja dos Salesianos do Estoril, na passada quarta-feira, 11, não deram seguramente por mal empregado o seu tempo, pois tiveram a dita de assistir a um dos mais fabulosos concertos que por estas bandas nos foi proporcionado.
            À bem criteriosa escolha do reportório associou-se o virtuosismo ímpar dos executantes, que nos deliciaram. Ouvi-los-íamos noite fora: foi a sensação com que ficámos. Dos 13 violinos aos 3 violoncelos e um baixo mais as três guitarras – todos nos brindaram com interpretações magníficas.
            Sim, o 38º Festival do Estoril começara no Largo de S. Carlos, no dia 5, com a Orquestra Sinfónica Portuguesa, mas estes Menuhin Academy Soloists, integrando músicos de variados países europeus encheram-nos as medidas!
            Dirigidos pelo romeno Liviu Prunaru, violino, começaram por interpretar a Simple Sumphony op. nº 4, de Benjamom Britten: à alegria saltitante e quase heróica seguiu-se a serenidade bucólica do entardecer, que um pizzicato acordou para, de novo, extasiar na tranquilidade dolente a que os braços de Cristo pareciam convidar e a excelente acústica do templo nada deixava perder; heroicamente, dialogaram os violinos no último andamento, um vivace presto.
            De Malcolm Arnold, a obra 77, «Concerto para dois violinos» (Liviu Prunaru e Valentina Svyatlovskaya, russa) e cordas: uma imagem sonora da turbulência actual (a obra é de 1962). Transcrição de Piñeiro Nagy e orquestração – eloquente! – de Tiago Derriça, circunstância que se repetirá nas Goyescas e nas peças de Albéniz. Parabéns!
            Após o intervalo, Espanha foi nossa companhia. Primeiro, um intermezzo das Goyescas, de Enrique Granados, em que já intervieram, à guitarra, Piñeiro Nagy (a grande e perseverante alma mater das Semanas de Musica do Estoril) e o MikroDuo (Pedro Luís e Miguel Vieira da Silva). Depois, o eterno Isaac Albéniz, em três peças, retratando cada uma a alma de sua cidade ou região: Astúrias, Cádis e Córdoba. E as guitarras gostaram das cenas e lá ficaram para o primeiro extra: uma canção de Manuel de Falla. Delicioso, em seguida, apesar de bem retratar a fúria dos elementos a perpassar pelo endiabrado movimentar de dedos a comprimir as cordas, «Invierno porteño», de Astor Piazzola, com Oleg Kaskiv (ucraniano), violino, como solista: longos foram, naturalmente, os aplausos e os bem merecidos «bravo!». E Liviu como que aceitou o desafio não para uma desgarrada mas para o trecho de uma abertura de Bach: magistral!
            A finalizar, Navarra, de Pablo Sarasate: a alegria das danças rodopiantes, em rimo de valsa bailam frenéticos os dedos pelas cordas… Mas… tivemos direito a mais dois trechos extra-programa, para terminarmos em ritmo de tango, como convém a quem saiu do templo com a alma cheia!...
            O festival volta no sábado, 14: Naseer Shamma trará lendas do Médio Oriente, em alaúde, à Sala Atlântico do Hotel Palácio.
Publicado no Cyberjornal, edição de 12-07-2012:

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