terça-feira, 16 de outubro de 2012

Aculturação linguística

             Como epigrafista, amiúde me debruço sobre o resultado do contacto entre povos de falas diferentes. A oralidade desempenha aí um papel primordial e não vale a pena, com frequência, arranjarmos explicações eruditas, etimologias rebuscadas, significados obscuros. Ouvia-se, pronunciava-se como Deus era servido, escrevia-se como soava melhor!
O caso dos emigrantes portugueses em França pode servir-nos de bom exemplo, quando, vindos de férias, decidem falar connosco na sua – e nossa – língua materna. E saem, por vezes, frases deveras curiosas, só perceptíveis, afinal, no seu contexto e só explicáveis por quem das duas línguas conhece um pouco.
Ora vejam-se estes exemplos:
– Uma tia muito atachada, para significar muito dedicada, de grande ligação afectiva (do francês attachée).
– Salmão verdadeiro? Tira daí o pensamento! Agora é tudo de elevagem (do francês élévage, criação em viveiro).
– Montámos o Douro (de monter, subir).
– Prendemos o autocarro (de prendre, apanhar, tomar).
 
Publicado no mensário VilAdentro [S. Brás de Alportel], nº 165 (Outubro 2012) p. 10.

2 comentários:

  1. Daniel de Sá, ilustre investigador açoriano, escreveu-me, no dia 20:
    «A respeito de palavras "híbridas" ou com dupla nacionalidade,
    deixo-lhe estas, de emigrantes nossos do Canadá ou States. Mas tem de
    descobrir por si, o que aliás não é nada difícil.
    "Ela olha bem."
    "Ele paga atenção."
    .........
    De facto, são mais umas interessantes curiosidades!... Bem haja!

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  2. Peço desculpa, mas discordo dessa explicação que corre também por cá a respeito da origem da palavra "roqueira". Não será de "rocket", quase de certeza. Mas sim da própria palavra "roqueira", que designava uma pequena peça de artilharia, que disparava projécteis de pedra.
    Já agora, diz-se é "alvarozes". E "pana" aplica-se apenas aos alguidares de plástico, que eram desconhecidos entre nós. Os de barro continuam, obviamente, a ser alguidares.
    Daniel de Sá

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