Dactilografar os textos ainda não
era corrente e, por isso, havia na redacção resmas de papel utilizadas de um só
lado (circulares, folhas de agências noticiosas, publicidade…) que serviam às
mil maravilhas para as crónicas, as breves notícias, os artigos de opinião,
tudo!...
Era ainda no tempo do chumbo, das linotypes, em que os caracteres eram
fundidos um a um ou em linhas e os tipógrafos sabiam bem ler e haviam estudado
em escolas profissionais ou feito dura tarimba em oficinas, onde desde cedo se
familiarizavam com o granel, o prelo, o linguado… termos, na actualidade, quase
caídos em desuso. E desde cedo aprendiam também a necessidade do copo frequente
de leite para fazer face aos nocivos efeitos tóxicos do chumbo a derreter…
Ficou-me o hábito – que diligentemente
transmito aos meus estudantes e que, de vez em quando, também noutros
contextos, traz surpresas.
Recordo que me mostraram, a 24 de Julho de 1994, o foral novo de Pedrógão
Grande, belíssimo exemplar em pergaminho. Para a encadernação, haviam sido usadas
folhas de antigo antifonário – a merecerem, pois, cuidadosa análise também.
Uma das muitas histórias em que são férteis as Selecções do Reader’s Digest e que faziam as delícias da minha
juventude referia como uma família, ao receber carta de amigos, mais se
encantara com o que vinha no verso do que com as notícias escritas nesse papel
reaproveitado.
Escusado será dizer que, para mim, rascunho do computador é sempre impresso
na página em branco (o «lado b»!...) duma folha utilizada.
Publicado
no quinzenário Renascimento (Mangualde), nº 601, 01-10-2012, p. 4.
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