Está patente no
bem restaurado Palácio de D. Manuel, em Évora, a exposição «O Paço Real e a
cidade», evocativa do que foi, ao longo dos séculos, a relação deste magnífico
edifício pleno de história com a vida da cidade.
Nele
funcionou, por exemplo, a partir da 2ª metade do século XIX, o Theatro Eborense
e, por isso, na exposição se mostram cartazes dessa altura. Respigo duas
informações que reputo de interesse, porque correspondem no fundo, a iniciativas
que noutros lugares na mesma época se levavam a efeito.
Assim,
anunciam-se bailes de máscaras para os dias 12, 16, 19, 20 e 21 de Fevereiro de
1882, a
«preços e condições do costume». Achei curiosa esta anotação.
Recordo
que, ainda nas décadas de 50 e 60, se faziam «bailes de benefício», cujos
proventos angariados eram entregues a quem, por inesperada desgraça,
necessitava de ajuda, numa altura em que não havia Segurança Social e também já
não estavam activas as confrarias medievais que amealhavam para auxílio dos seu
membros necessitados. Chamou-me, por isso, a atenção, o anúncio de uma «récita extraordinária
e de caridade», a realizar a 8 de Dezembro de 1913. Valerá a pena atentar no
teor do anúncio, inclusive para se ver qual o sentir do Povo nessa época.
A
organização partiu de «um grupo de amigos e admiradores do distinto amador
dramático o operário marceneiro Francisco Manuel de Andrade que há meses vem sofrendo
duma doença na vista que o impossibilita de trabalhar, lançando-o em precárias circunstâncias».
Por conseguinte, a récita será «em benefício do desditoso operário cego, e de
sua desolada esposa». Repare-se na imensa carga afectiva que se desprende dos
três adjectivos usados: desditoso, cego, desolada…
Anuncia-se
depois que «obsequiosamente» na récita «tomam parte as distintas amadoras»
cujos nomes se indicam a seguir. E explicita-se que os preços a praticar serão
os seguintes:
Balcão:
31 centavos (310 réis)
Plateia:
21 centavos (210 réis).
Não
deixa de ser, também esta, uma nota interessante, porque – situando-se num
período de transição do valor da moeda (do real para o escudo) – houve o
cuidado de assinalar a respectiva correspondência. Aliás, muitos de nós se
lembrarão ainda de ter na mão uma nota de vinte mil réis, perdão, de vinte
escudos; mas, na linguagem quotidiana, vinte mil réis ouvia-se com frequência…
José d’Encarnação
Publicado em Cyberjornal, 02-07-2015:
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