‒ Vê vocêa! O filho saiu um bicho-do-mato,
sempre metido no seu canto, não fala com ninguém. E ela, já pra mais de 90
anos, toda rabitesa! Faz toda a lida da casa, até se empoleira na escada para
caiar e a gente grita-lhe: «Ti Ausenda, vossemecêa inda cai daí e nem a alma se
lh’aprovêta!». Qual quê! Ainda é capaz de fazer pouco da gente, que já não
prestamos pra nada!... Outro dia, deu-lhe um ginete e foi pra cima do telhado a
ver como estava a chaminé, que as letras lá do nome do avô não se viam bem nem
a data da casa…
«Vê
vocêa», por «veja, você» (às vezes, até vai mais um i para abrandar: vocêi…). E
gostei do «rabitesa», que é como quem diz «de carnes rijas, nada de flacidezes!»,
entende-se... Depois, o ginete, a lembrar «ginete», cavalo ágil, «gineta», o
gato selvagem, ou a gineta, espécie de furão – tudo animais que, num ápice, se nos
fogem…
Os
nossos falares, esses, é que não podemos deixar fugir!
José d’Encarnação
Publicado em VilAdentro [S. Brás de Alportel] nº 198/199, Julho/Agosto de 2015,
p. 10.
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