Fracassos,
porém, não podem ser como as águas tormentosas, que não enchem abismos. Prefiro
compará-los às folhas amarelecidas que atapetam o chão, lhe mantêm frescura e,
paulatinamente, lhe injectam (elas sim!) bem precioso fecundante.
No
passado dia 22 de Junho, defendeu João Orlindo Marques, na solenidade da Sala
dos Capelos da vetusta Universidade de Coimbra, a tese de doutoramento (em
Letras, área de História, especialidade de Museologia e Património Cultural) intitulada
Pelos Meandros do Xisto: o Património
Rural na Freguesia de Vide.
Capa do I volume da publicação |
Ali
miudamente se caracteriza o que foi e o que é esta freguesia do concelho de
Seia, os valores patrimoniais – físicos e imateriais – que detém e que importa
preservar. No fundo, um território cujas características populacionais e
económicas não serão muito diferentes das dos que lhe são vizinhos, nesta zona em que
as vidas se passam na agricultura e na criação de gado, na montanha e nos vales
e onde um olhar mais arguto determinou migrações para as cidades, para franças
e araganças, em vista do eldorado gostoso. E pelas terras outrora produtivas
deu em crescer o que calhava e o vento trazia… E pelas chaminés das casas
típicas já não se esgueira o fumo quente de uma ancestral lareira.
Que
fazer? Cruzar braços, saudar apenas num dar-de-vaia os velhotes sentados à
porta, a contarem quantos dias faltam pró Natal?
João
Orlindo propõe que não. E se o aliciar os novos para reocuparem habitações
desertas até poderá ser solução perante as crescentes dificuldades citadinas (e
o Povo sabe dar a volta por cima, oh se sabe!...), a criação polinucleada de um
Museu Território de Xisto poderá servir de bom repositório de memórias, de
reencontro de gerações e de costumes, de recriação de uma comunidade que urge
cimentar.
Irrealizável
utopia? Vamos acreditar que não!
José d’Encarnação
Publicado no quinzenário
Renascimento (Mangualde), nº
666, 15-07-2015, p. 12.
Reproduzido em Porta da Estrela (Seia), ano XXXVIII, nº 1017, 15-09-2015, p. 14.
Reproduzido em Porta da Estrela (Seia), ano XXXVIII, nº 1017, 15-09-2015, p. 14.
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