O Espigão das Ruivas |
Por
insistência de Guilherme Cardoso junto do Gabinete de Arqueologia da Câmara
Municipal de Cascais, na altura chefiado pelo Dr. João Cabral, já falecido, no
Espigão se levaram a efeito, em 1991, sondagens arqueológicas.
Foram
os resultados obtidos publicados por nós, agora, nas actas do II Congresso de Arqueologia
da Associação dos Arqueólogos, onde apresentáramos,
a 24 de Novembro, uma comunicação
sobre o tema.: «O sítio arqueológico do Espigão
das Ruivas (Cascais) in: ARNAUD (José Morais) e MARTINS (Andrea), Arqueologia em Portugal. 2017 – Estado da
Questão. Lisboa: Associação dos
Arqueólogos Portugueses, 2017, p. 955-966 (acessível em: http://hdl.handle.net/10316/44758).
Na
sequência desses trabalhos arqueológicos, foi possível identificar vestígios de
uma presença humana que perdurou intermitentemente entre a Idade do Ferro e o
período medieval. Os materiais mais antigos mostram uma ocupação inicial da Idade do Ferro,
enquanto os mais modernos são já do período islâmico.
Ignora-se,
porém, a funcionalidade deste pequeno esporão sobranceiro ao mar e de difícil
acesso. Algumas hipóteses têm sido avançadas: local de culto, posto de vigia ou,
até mesmo, um farol de apoio à navegação ,
sem que alguma delas seja verificável até ao momento.
A
ideia de farol é aceitável, a fim de
sinalizar o local aos navegantes que procurassem, ao cair do dia ou à noite,
aquele porto de abrigo, em tudo semelhante ao que devia existir em Porto
Brandão – «brandão» significa precisamente círio ou vela de grandes dimensões
–, ou, como no caso do porto de Cascais, onde, até há poucos anos, um pequeno
farolim guiava os mareantes durante a noite, de modo a melhor localizarem a
Praia da Ribeira.
O
porto poderá ter servido também de apoio às actividades de pirataria. Ali se poderão
acoitar os piratas à espera das presas e para abastec imento
de água e outros víveres.
Nos
finais do século XIX e até inícios do século XX, estiveram aboletados no Porto
Touro pescadores que faziam parte da
campanha da armação da Roca, para a
pesca da sardinha, de que forneciam as fábricas de conservas da vila de
Cascais. Dessa época é a muralha que se vê na praia, onde existia um guincho
que, com os anos, enferrujou, ficando inoperacional – daí o antigo nome de
«porto do guincho», como era conhecido também o Porto Touro, passando
posteriormente a ser identificado por Porto do Guincho Velho. Já estava desactivado
nos anos 70, quando se visitou o local. Teria sido usado para puxar as barcas
da armação da Roca para terra. Desse
período ficaram, um pouco mais acima da praia, ao lado do caminho da Biscaia,
as ruínas das instalações da companha da Roca, onde, nos meados do século
passado, ainda existia uma taberna gerida por um casal, para abastec imento dos pescadores
que ali aportavam durante o Verão.
Pescadores na Praia de Porto Touro |
O
sítio arqueológico do Espigão das Ruivas assume, por consequência,
características próprias e que nos remetem para um mundo ligado ao mar, que
terá servido esporadicamente de apoio a actividades marítimas durante a Idade
do Ferro e o Período Romano. Na Antiguidade Tardia, o sítio terá sido habitado
durante longos períodos até aos inícios da influência islâmica, altura em que
foi abandonado definitivamente.
Tudo
leva a crer que o sítio também teria sido usado esporadicamente como porto de
embarque ou desembarque de pessoas e mercadorias.
As
fogueiras de que encontrámos vestígios poderão ter servido de sinalização para os pescadores ,
que, surpreendidos pelo cair da noite no mar, precisavam de encontrar, com
segurança, o seu caminho de regresso ao porto de abrigo.
Solene,
altaneiro, silencioso acabou por se manter quando o quisemos interrogar acerca do seu passado e do mistério que o envolve.
Parece arrogante e indiferente às vagas que, em dias de tormenta, impiedosas
lhe mordem os pés; mas há nele também um ar simpático de númen protec tor para os escassos pescadores
que ainda acorrem a Porto Touro, na esperança de, vencendo as correntes,
lograrem alcançar uma pescaria que lhes mate a fome e lhes permita, também,
arrecadar algumas moedas…
Guilherme Cardoso
José
d’Encarnação
Publicado em Cyberjornal, edição de
18-12-2017:
Muito interessante e, como sempre, graças aos "Irmãos Metralha" Insignes Arqueólogos, Homens de Cultura e, por privilégio meu, Amigos Guilherme Cardoso e José d´Encarnação
ResponderEliminarCornelio Meus Caros Professores gostei do Trabalho até porque, para mim tem um interesse familiar, o meu Avô Paterno, Manuel Cornélio, esteve engajado na Armação da Roca, vinham a casa apenas ao Sábado e para virem para Cascais aproveitavam as boleias da Malta da Azoia e Arredores que vinham vender a Cascais, o meu Avô vinha com primos pelo lado da Mãe e da Avó. Agora Caro Amigo Zé, o Farolim de São Brás, era o que estava na Praia do Peixe, assinalava também a Lage existente junto ao clube naval. Por outro lado delimitava o Fundeadouro de Cascais pelo lado poente, a nascente existe um Farolim numa Ponta junto ao Hotel Albatroz, já agora, o limite sul é o Paralelo que passa na Torre do Marégrafo. A hipótese do Espigão das Ruivas ter servido de Farol para sinalizar um Porto Seguro é muito bem capaz de ser a mais viável, basta verificarmos que até ao inicio do Período Islâmico a Navegação tendia a ser de cabotagem na sua maioria e diurna, pelo que de noite os Mareantes acostavam, chegando a encalhar os barcos para passarem a noite. Obrigado pelas Notas e desejo-vos um Feliz Natal.
ResponderEliminarLouvo aqueles que, como Guilherme Cardoso e José d'Encarnação, percorrendo e dando-nos conta dos caminhos que a História percorreu, assim nos sedimentam o passado para que também valha a pena buscar futuro.
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