O
Spike, esse, fica contente se jogarmos à bola com ele, nem que seja por escassos
minutos. E é um prazer quando, a determinado momento do passeio – de manhã ou
ao final da tarde – lhe digo: «Spike, pára, que o dono vai soltar-te!». E lá
vai ele em alegre correria pelo descampado.
Senhora com gato. Terracotade inspiração popular. Obra de Foundarte (Mafra) |
Privilegiado
é o Maio, que se senta na secretária quando estou ao computador e me dá turras
de vez em quando e, à noite, adormece ao colo da dona, ao som da televisão…
Não
será, porventura, impunemente, que Nossa Senhora aparece representada
habitualmente com o Menino ao colo e Santo António O tem sobre o livro da sua
sabedoria…
Creio
que se terá tornado «viral» (como hoje se diz) o vídeo a mostrar todos os
membros da família fidelíssimos ao lema de que o telemóvel é o instrumento para
tornar perto os que estão longe e atirar para longe os que estão por perto.
Contactavam todos com um Além que era deles e o pobre do chefe de família, à
cabeceira da mesa, cabeceava com sono, porque ninguém lhe ligava importância. A
determinado instante, porém, há um que grita, esbaforido:
–
Tenho a bateria no fim! Tenho a bateria no fim! Um carregador, por favor! Um
carregador!
Serenamente,
o chefe de família pegou no carregador que estava atrás de si e entregou-lho. A
cena prosseguiu nos contactos para o Além. E o chefe de família, na ceia de
Natal, voltou a passar pelas brasas.
Não
queremos um Natal assim. Não queremos os nossos dias assim. Não queremos que a ficção
ensombre a nossa quotidiana realidade e tolha a atenção a quantos nos são queridos
e connosco compartilham, real e não virtualmente, os altos e baixos em que se
nos vai o dia-a-dia! Não queremos.
José d’Encarnação
Publicado em Renascimento (Mangualde), nº 721, 15 de Dezembro de 2017, p. 16.
Também quero colo!
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