terça-feira, 5 de dezembro de 2017

Uma lição de sabedoria política

            Não andarei longe da verdade se referir ter sido uma autêntica lição de sabedoria política o que nos foi dado ouvir por ocasião da apresentação, no Grémio Literário, no passado dia 29, do livro, de Licínio Cunha, Turismo e Desenvolvimento.
Licínio Cunha, Pinto Marques, Vítor Neto, Assis Ferreira e Frederico Annes
            António Teixeira Pinto Marques, o Presidente do Conselho Director do Grémio, deu as boas vindas a quantos enchiam por completo a sala da biblioteca da instituição e manifestou o seu regozijo por, mais uma vez, a sua casa ser palco de tão luzida cerimónia.
Silva Peneda, no uso da palavra
            Foi Silva Peneda o primeiro apresentador. Após ter sublinhado que «resiliência» e «sustentabilidade» são duas palavras que estão na moda, declarou preferir falar de «harmonia na sustentabilidade» e da necessidade de se estabelecerem compromissos com as soluções preconizadas para os problemas que surgem, na medida em que «a essência de qualquer estratégia política é a convergência de interesses». Desconfia sempre de alguém que lhe apresenta «soluções miríficas». Observações a propósito da obra ora vinda a lume e na sequência da temática nela sabiamente desenvolvida. Terminou realçando a elevada «qualidade humana do seu autor».
            Vitor Neto que, tal como Licínio Cunha, exerceu funções de secretário de Estado do Turismo tomou a palavra em seguida, começando por afirmar que «este livro não é um simples livro, é um tratado, um compêndio. Eu já o li, agora vou estudá-lo». O seu autor tem uma visão global do turismo, faz a história do fenómeno turístico não apenas em Portugal, fenómeno que «não é uma soma de prémios do tipo ‘os melhores do mundo’». «Desenvolvimento económico sustentável» é, em seu entender, um dos capítulos mais sugestivos, embora também não seja de menor valia a sua análise de «como é que o Estado tem encarado o turismo» e da avaliação que os governos fazem da importância económica do turismo. «Importa dar consistência àquilo que se conquistou», frisou, a terminar, acentuando a forma simples, a seriedade e a honestidade com que o autor aborda estes assuntos.
            «Um livro que, de facto, marca o turismo», começou por afirmar Mário Assis Ferreira, administrador da Estoril-Sol. Relatou os contactos que teve com Licínio Cunha, então secretário de Estado, quando foi para o Casino e lhe apresentou as novas ideias que tinha intenção de incrementar, designadamente a de tornar o Casino muito mais do que mero local de jogo, mas potenciador de iniciativas culturais nos mais diversos domínios, mas, de modo especial, na Música, no Espectáculo, na Arte, na Gastronomia. «Qual enciclopédia sobre a actividade turística», «trabalho de fôlego» em que não falta o apontar de mudanças e perspectivas, de leitura mui acessível, que apresenta, em anexo, uma série de documentação do maior interesse, desde a Declaração de Manila (1982) à Declaração de Ecoturismo de Quebec (2002). Uma obra de 338 páginas, onde falta, no entanto, uma palavra sobre a grande receita fiscal que advém da actividade dos casinos, mormente se se tiver em conta «a drástica reviravolta conceptual» do seu papel, que ele próprio, Assis Ferreira, «ousou implantar - e com êxito! - nos casinos da Estoril-Sol. Licínio Cunha terá duvidado da possibilidade de tal vir a concretizar-se; o certo é que se concretizou. E concluiu: «Diz Óscar Wilde que se resiste a tudo menos à tentação; que seja a publicação dum próximo livro a próxima tentação de Licínio Cunha».
            O autor agradeceu a generosidade dos apreciadores e se «ninguém é tão velho como aquela pessoa que desistiu de ter objectivos», o certo é que, depois de ter redigido mais de duas centenas de textos, considera que «as novas ideias escasseiam» e que termina aqui o seu «ciclo académico» (recorde-se que Licínio Cunha exerceu, até 2014, as funções de director da Licenciatura em Turismo na Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, de Lisboa). Afirmou não ver com bons olhos que o turismo seja encarado como uma moda, efémero como ela é; que a «pegada turística» seja… «uma praga»! O turismo há-de ter em conta «o visitante e a pessoa, o território mais o ambiente», numa estratégia de desenvolvimento sustentável, que considera ser o objectivo principal que o livro prossegue, apelando para que «a ênfase do crescimento seja substituída pela do desenvolvimento».
            A editora da obra é a Lidel, cujo representante, Frederico Annes, aproveitou o ensejo, a finalizar a sessão, para dar conta da actividade desta empresa familiar, que em Março completou 50 anos (vai na 3ª geração), já acolheu 3000 autores de livros por onde muita gente tem aprendido, como é o caso dos livros de Medicina ou do ensino de português para estrangeiros.

                                                                                  José d’Encarnação

Publicado em Cyberjornal, 4-12-2017:

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