Com
montagem Caev e 30 fotografias Pixdaus, partilharam comigo um PowerPoint subordinado ao título «O
fascínio da fotografia – Olhares».
Olhos
bonitos todos e bem intrigantes alguns, de pessoas e de animais. De homens,
mulheres e crianças, colhidos nas mais variadas circunstâncias, porque nesses
olhos tanto víamos a doçura de mavioso pôr-do-sol como a risonha esperança do
alvorecer ou a dolente tristeza de uma estranha noite que está para vir…
Parei
em quase todas as fotos, numa tentativa de entrar mais fundo nesses olhares,
como, por vezes, me acontec e no sofá
do corredor do centro comercial e tento, pelo andar ou pelo trajo, penetrar na
alma de quem passa sem se aperceber que eu ali estou a observar.
E
lembrei-me da frase que oiço amiúde e que também de mim sai espontânea não
raro: «Curioso! Nunca tinha reparado!». Vemos, não reparamos, não olhamos,
passamos de raspão.
Há
anos que andava para lançar um passatempo, a que ora lancei ombros: apresentar
o pormenor de um edifício ou monumento e desafiar os amigos: «Ora então descobre
lá onde é que isto está!». E tem sido deveras significativo o facto de tantos
de nós termos passado por ali e nunca termos parado diante e pensado no significado
que esse pormenor pode deter. Não houve «olhos de ver»!...
Sintoma
do corrupio em que se nos vai a vida, sem o saboreio do momento. Estamos à
mesa, a regalarmo-nos com um acepipe e alguém não resiste: «Nem queiram saber! Comi,
há dias, um polvinho à lagareiro divinal! Que delícia!». E assim, nem o
delicioso ensopado de cabrito sabe como deve ser, porque se mete pela frente o
polvinho à lagareiro!...
Corremos.
Dizem que, aos brindes, devemos olhar olhos nos olhos. Que assim lemos melhor o
que os olhos querem dizer. Um olhar apaixonado vale – como se diz da imagem em
jornalismo – mil palavras. ¿E aquele olhar suplicante da criança do Médio
Oriente? ¿E o olhar malandro do jovem traquinas?
O
fascínio do olhar. A urgência do «Pare, escute e olhe!». Curou Cristo o cego de
nascença, certamente para que ele pudesse apreciar melhor os lírios do campo de
que falou numa parábola!
José d’Encarnação
Publicado em Renascimento
(Mangualde), nº 733, 15-06-2018, p. 10.
Luis Vicente
ResponderEliminar19/6 às 11:20
José, amei o texto. Mas mais que as magníficas palavras que sempre saem da tua alma quais lanças de sabedoria e sentimento, está o significado de tudo o que escreveste. Um dos grandes males de que padece a sociedade global é a ansiedade de estar sempre à frente do tempo sem tempo para desfrutar o tempo presente. Se entendermos que o presente é isso mesmo, um "presente", iremos disfrutá-lo como se não houvesse amanhã. Obrigado por esta partilha. Abraço. PS: Os teus olhos também falam muito por ti.
Este comentário foi removido pelo autor.
EliminarFico contente por estarmos em sintonia. Bem hajas! Abraço retribuído!
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