terça-feira, 19 de junho de 2018

Patrimoniices cascalenses 11



                                   Ora então descubra lá:
                                   Onde é que isto está?


            Nos finais do séc. XIX, primórdios do século XX, duas correntes arquitectónicas prevaleciam em Portugal:
            ‒ a da «Casa Portuguesa», que privilegiava um estilo ligado às nossas tradições e se inspirava nos palácios senhoriais azulejados, eco das mansões dos ‘senhores de engenho’ brasileiros erguidas, mormente no Norte do País, pelos ‘portugueses de torna-viagem’, isto é, pelos que tinham ido para o Brasil e de lá voltavam enriquecidos, fruto, por exemplo, dos negócios do açúcar;
            ‒ e uma outra, cosmopolita, que se deixara embevecer pelos estilos da Europa, mormente da Europa balnear e palaciana.
            Foi Raul Lino o arquitecto que mais pugnou para manter o lídimo carácter próprio da nossa arquitectura. A placa que se propôs para a adivinha da semana que findou identifica, pois, uma dessas casas de estilo português, em que o azulejo, bafejado pela estética da Arte Nova, assumiu papel preponderante. É a casa Santa Maria, situada na esquina noroeste da Rua Afonso Sanches com a Travessa Visconde da Luz, em Cascais.
            Trata-se, seguramente, de uma das casas mais fotografadas da vila, não apenas pela singular harmonia do conjunto como pelo encanto que dos azulejos se desprende. Imagina-se palácio em miniatura, com sua capela própria, para espiritual conforto dos moradores…
            Reza a placa que foi Guilherme Gomes, da Amadora, quem, em 1916, se encarregou do projecto e da construcção [sic]. Enquanto o litoral urbano se prestava a albergar palácios como o dos Duques de Palmela ou o do Marquês do Faial, as zonas limítrofes do centro histórico não desdenhavam em aceitar esses palacetes menos exuberantes mas não menos eloquentes na sua traça arquitectónica, que ainda hoje nos encanta.
            Tem Guilherme Gomes nome de rua na Amadora, sendo considerado «arquitecto e pintor projectista dos mais belos edifícios da Amadora», tanto que mereceu ser caricaturado no livro, de Roque Gameiro, Damas e Varões Ilustres da Amadora (Setembro de 1914). É da sua traça a Casa Aprígio Gomes, «abastado negociante de Lisboa que veio habitar na Amadora e que se distinguiu pela sua participação na vida associativa e cultural local, bem como pelo seu interesse pela ciência, tendo inclusive colocado uma luneta astronómica na sua casa». A sua moradia foi gizada por Guilherme Gomes em 1903 e detém pormenores inconfundíveis do seu estilo, como, aliás, podem ver-se na casa Santa Maria em Cascais. A Casa Aprígio Gomes pertence à Câmara Municipal da Amadora e nela funciona o Centro de Ciência Viva da Amadora.
            Ainda em Cascais, Guilherme Gomes giza, em conjunto com Raul Lino, no ano de 1920, a solene arquitectura da casa dos Condes de Monte Real, sita no topo sul da Avenida D. Carlos I.
            Casa Santa Maria, na vila de Cascais: um património arquitectónico, portanto, deveras significativo e a… apreciar!
                                                José d’Encarnação
Guilherme Gomes, caricaturado
por Rafael Gameiro
 
                                                 








 
                                                        

Sem comentários:

Enviar um comentário