quarta-feira, 4 de outubro de 2017

Erasmus na UC: desenvolvimento e consolidação

            Perguntou-me o Doutor Ludwig Scheidl, ao tempo Presidente do Conselho Directivo da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, se não me importaria de coordenar o Programa ERASMUS recém-criado, na parte que dizia respeito à História. Aceitei de muito bom grado o encargo e de imediato logrei enviar para Poitiers duas estudantes, justamente por ser a Universidade que imediatamente nos propusera como parceiros nesse projecto. Corria o ano lectivo de 1988-1989. E, desde Novembro de 1995 a 1999-2000, acumulei essas funções com as de delegado do Conselho Directivo para a supervisão dos programas ERASMUS / SOCRATES.
Capa da revista. Lê-se na tatuagem:
«llevo el mundo en mí alma»
            Hoje, aposentado há quase 10 anos, continuo a receber mensagens de estudantes que eu incitei a irem passar um ano ou um semestre nas universidades com que rapidamente encetei relações. Desde muito cedo também, quando as disponibilidades financeiras eram maiores, associei a um dos programas a Doutora Maria Manuela Tavares e, em boa hora o fiz, porque se há hoje um Departamento de História, Estudos Europeus, Arqueologia e Artes é porque os Estudos Europeus, por seu intermédio, ganharam renome e grande pujança entre nós e a nível internacional.
            Não se concebe, em 2017, o que foram esses primeiros 20 anos ERASMUS, porque se tratava de algo verdadeiramente inovador, desprovido de skypes, WhatsApp e mesmo de mui reduzida utilização da Internet e do telemóvel. Valia-nos o facto de os docentes das universidades parceiras serem conhecidos e amigos. Quanta vez não telefonei aos pais dos estudantes a garantir-lhes que os filhos estavam bem! E a facilidade que nos era proporcionada de fazermos reuniões ora numa ora noutra universidade permitia-nos trocar opiniões e ajuizar do que seria melhor para o futuro. O relacionamento pessoal desempenhou papel do maior alcance, bem secundado pelas estruturas universitárias, cujos responsáveis também acabávamos por conhecer e tudo se tornava, por isso, muito mais facilitado.
            À fase inicial em que aos responsáveis era entregue também a gestão do financiamento, o que permitia maior maleabilidade de movimentos, viria a suceder, pela ordem natural das coisas, uma fase centralizadora, burocratizada a nível institucional e de menor capacidade financeira. O programa ressentiu-se, por isso, inclusive no que se poderia chamar de «democratização», pois o que, a princípio, era acessível, teoricamente, a todos os estudantes, desde que fosse bom o aproveitamento, passou a ter uma ‘discriminação’ económica, porque – apesar de cada Universidade procurar criar estruturas de acolhimento a nível de estada – o nível financeiro das famílias tinha de ser acima da média, para poder suportar as despesas.
            Em todo o caso, uma experiência ímpar que marcou definitivamente a vida dos nossos estudantes, alguns dos quais acabaram por fixar-se e constituir família nos países para onde foram. E o mesmo aconteceu com quem veio para Portugal.

                                               José d’Encarnação
 
Publicado em Rua Larga (revista da Reitoria da Universidade de Coimbra, nº 49, Julho 2017 [comemorativo dos 30 anos do Programa ERASMUS], p. 16 (versão inglesa na p. 17).

9 comentários:

  1. Margarida Anastácio
    4/10 às 23:26
    E que trabalho pioneiro, visionário e brilhante fez! Beijinhos amigos desde os primórdios do programa Erasmus... 💋

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    1. Bem hajas, Magui! E tu foste uma excelente 'secretária', sempre disponível para ajudar a resolver os problemas! Beijinhos retribuídos!

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  2. António Chéney, 5/10 às 6:05
    Privilégio dos meninos e meninas da classe média.

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    1. Lamento, António, que tenhas essa opinião, porque não corresponde à verdade. E sempre os responsáveis pelo ERASMUS procuraram dar resposta favorável mesmo àqueles que poderiam não ter condições económicas para uma estada no estrangeiro. Preocupava-nos mais saber se tinham vontade de fazer a experiência, que o resto - os aspectos financeiros - sempre havia meios para suplantar dificuldades. E estou convicto que todas as famílias cujos filhos tiveram uma experiência ERASMUS não estão arrependidas do esforço suplementar que possam ter feito. Tu, com as notas que tinhas e o entusiasmo que punhas nos estudos só não foste para ERASMUS porque tal se não se proporcionou da tua parte, creio bem.

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  3. Teresa Silva 5/10 às 8:10
    É verdade, Professor José d'Encarnação! Foram mesmos os temerários que avançaram! Só é pena que hoje os estudantes nacionais continuem a não aderir na quantidade que desejaríamos... São demasiado acomodados! Mas a luta continua. Bem haja pelo seu espírito de descoberta, inovação e modernidade. Beijinho grande.

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  4. Teresa Silva 5/10 às 8:29
    É isto que faz uma Universidade! As Universidades não são escolas para dar diplomas (não deviam ser) são escolas para capacitar o crescimento, facilitar o desenvolvimento científico e contribuir para o bem-estar e a elevação da sociedade.

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  5. Patrícia Batista
    Foi uma experiência inesquecível, mas o início não foi fácil, valeu o professor sempre disponível!

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  6. Anabela Lourenço Marcos 6/10 às 9:47
    Erasmus, a melhor experiência que a universidade proporciona! A muitos níveis! Eu fui estudante erasmus em 93/94, há mais de 20 anos.

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