segunda-feira, 30 de outubro de 2017

«Transcendências», de António Macedo, na galeria do Casino Estoril

             Confesso que gostava de saber escrever assim. Não, desenhar ou pintar não digo, porque sou um zero à esquerda e sempre apanhei péssimas notas a Desenho. Não tenho jeito, pronto! Para escrever, lá vou alinhavando umas coisas, porque escrevo desde pequenino e todos os dias escrevo, e mal de mim se algo não tivesse aprendido com os excelentes professores que tive ao longo de toda a minha vida!
            Também me aventurei no campo das Artes Plásticas, mantendo uma secção de noticiário acerca das exposições que se iam realizando pela Costa do Sol (hoje, Costa do Estoril). Ele era a galeria da Junta de Turismo, de saudosa memória (não faltava a uma inauguração!); a galeria do Casino, desde os anos 60, em que foi dirigida pelo prof. Calvet de Magalhães; a galeria JF, do escultor Óscar Guimarães (como presidente da Junta de Freguesia de Cascais).
            Era assim a modos de eu olhar para os quadros ou as esculturas e, como estudara História de Arte na Faculdade, contava o que eles me «diziam». Creio que a isso se chama uma escrita «impressionista», porque relata as impressões que o escrevente transmite.
            Nunca, porém, ousei embrenhar-me na linguagem – para mim, hermética – dos críticos de arte. Admiro-a, tiro-lhes o chapéu, protestando a minha ignorância e incapacidade.
            E porque é que estou agora a falar disto? Porque está patente na galeria do Casino Estoril a exposição de António Macedo, não o apresentador do Programa da Manhã na Antena Um, mas um portuense (n. 1955), que, depois de frequentar a reconhecida Faculdade de Belas Artes do Porto, demandou Londres, em 1975, fez já 16 exposições individuais, participou em dezenas de exposições colectivas e também figuraram trabalhos seus «em algumas das maiores feiras de arte mundiais».
«A entrega», óleo sobre tela, de António Macedo
            Claro, perante isso, não pode o sapateiro ir além da chinela e, por conseguinte, tive de ater-me a transcrever o que conceituados críticos escreveram sobre o senhor. Um deles é espanhol e, na informação que amavelmente me foi enviada, classifica a obra de António Macedo como um «labirinto de claridade, onde se cruzam a realidade e o desejo, a luz ténue, o passado e o futuro, o neo-realismo e o super-realismo». É interessante. Uma pintura intemporal. Não sei como é essa do desejo, mas deve ser verdade. E tenho de ir ver.
            O outro crítico é o meu grande amigo Edgardo Xavier, poeta lírico até à medula e pintor nas horas vagas (eu digo isso, porque está a escrever mais do que a pintar). E recorto um breve trecho das frases transcritas, para se ver como eu nunca saberia escrever assim. Garante Edgardo Xavier que António Macedo «reinventa o sentido das formas» e as expõe «dentro de um racional equilíbrio que afirma a força dos academismos na nova procura do que se esconde para lá da emoção meramente plástica».
            Pois.
            Sirva, por conseguinte, todo este preâmbulo para incitar a uma visita obrigatória: a exposição de 27 óleos e 10 desenhos estará patente até 20 de Novembro, diariamente, das 15 às 24 horas.

                                                                      José d’Encarnação

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