quinta-feira, 5 de outubro de 2017

Faltam as palavras!

            Nem sei que diga! Faltam-me, de facto, as palavras, mesmo depois de apenas ter desfolhado, parando aqui e além, o nº 61.
            A magia da capa – um achado técnico que só a equipa da Egoísta poderia conceber. Começa logo por aí. Depois, o acutilante texto do director, Mário Assis Ferreira. O bilinguismo (há dos textos a versão em inglês) – para que a maravilha alcance ainda mais horizontes.
            O texto sobre Adelino Faria, repórter, com eloquente montagem. A imagem de Cândida Pinto, a mulher que (pensamos nós) de nada tem medo, em cenários de guerra e de campos de refugiados, jornalista dos quatro costados.
            O testemunho da mulher que se inscreveu no Big Brother…

A televisão e nós
            Foi um brevíssimo e extremamente incompleto sumário do conteúdo do nº 61 (Junho de 2017) da Egoísta, revista da Sociedade Estoril-Sol. Já lá voltaremos. É que não posso deixar de desabafar um pouco, porque esta crónica, pensada e redigida antes das eleições, só vai sair com os resultados eleitorais conhecidos – e eu nem quero pensar nas reflexões que vão ser finamente feitas em relação a Oeiras (onde, neste momento, tudo leva a querer que Isaltino voltará a governar) e a Cascais.
            Disso, pois, bico calado, para não gerar anticorpos, que a gente já cá anda há muito ano, muito presidente nos passou pelas mãos (salvo seja!) e isto de relacionamento dos executivos camarários com a Comunicação Social local é sempre barril de pólvora e ai de quem se atrever a puxar fogo à mecha!
            Direi, todavia, que nos fartámos.
            Primeiro, dos repórteres que fizeram a cobertura dos incêndios, cheios de perguntas altamente inteligentes quer aos exaustos bombeiros quer às desoladas criaturas que, num ápice, tinham perdido todos os seus bens. «Foi uma desgraça, não foi?». «E agora o que pensa fazer?»…
            Depois, dos chefes políticos. Sim, aqueles que falam pelo Partido e pelo Povo, que abordam os problemas nacionais e aproveitam para apresentar soluções para tudo, menos para aquilo que o Povo daquela terra por onde estão a passar quer ver resolvido, pois se trata de eleições locais. Ao ouvi-los falar, são sempre as grandes linhas de acção, o que o Governo anterior não fez ou este não está a fazer. Nisso, o grande mestre foi, sem dúvida, Álvaro Cunhal, honra lhe seja feita. Antes de ir a uma localidade, informava-se do que era preciso ali, do que estava mal, do que necessitava urgente melhoria. Pão pão queijo queijo. Nada de especulações. E, depois, queixam-se que há abstenção, que o Povo não está para ir às urnas. Eles dizem todos a mesma coisa, que aprenderam nas cartilhas e não no contacto com o País real!... Adiante.

Uma edição a premiar!
            Por isso eu digo que esta edição da Egoísta saída em Junho (repito), antes de pré-campanhas eleitorais mas já em período de final de mandato em que importa inaugurar, começar obras, fazer o que esteve amodorrado anos nas gavetas… E ainda se criticava o Senhor Comendador Alberto João!... – é para ler tudo e meditar!
            Para já, o exemplo dos dois repórteres a que fiz referência.
            Depois, as bem oportunas reflexões de Assis Ferreira, que termina afirmando que, felizmente, em termos de televisão, temos liberdade de escolha, «cada um tem a Televisão que merece! Ainda que a opção seja desligá-la!».
            E, em terceiro lugar, a brincadeira maior: «Passámos horas a rever os grandes debates de quatro décadas de democracia. Registámos as perguntas dos moderadores, anotámos promessas, provocações, apartes, picardias e proclamações dos candidatos à direita e à esquerda do nosso ecrã. Misturámos tudo e da grande Bimby da política portuguesa saiu o debate que se segue». Frases «ditas em momentos decisivos da nossa vida colectiva». E a adivinha lançada pela revista: quem foi que disse o quê? Um mimo!
            Debate inventado, sim; mas manta de retalhos autênticos que não nos agasalha; causa, ao invés, arrepios de frio, porque mui dificilmente daí emana calor. O calor que nos confortaria e de que, mesmo tendo apenas dele uma levíssima pontinha de esperança, teimamos em impregnar os papelinhos a introduzir na ranhura.
     
                                                          José d’Encarnação                   

Publicado em Costa do Sol Jornal [Cascais], nº 205, 04-10-2017, p. 6.

2 comentários:

  1. Nuno Pedroso 5/10 às 17:26
    Continue a escrever. Ajuda a manter alerta quem está a ler.

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  2. José Dinis 7/10 às 20:07
    Muito bem, mas muitos ficaram chamuscados. Justamente, diga-se em abono da verdade.

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