Uma visita
E fui lá de novo aqui
há uns tempos, precisamente a 11 de Junho de 2011.
O painel de boas-vindas ainda tem
o nome primeiro (de Ponta do Sal) e anuncia o que há: cafetaria, sanitários,
zona de estada (esplanada, praça exterior, miradouro – algumas letras foram
roubadas…), anfiteatro, património... Indica o horário (encerra às segundas) e informa
que nasceu da iniciativa do Instituto da Água em colaboração
com a Câmara Municipal
de Cascais.
Passei
junto do que resta da gruta pré-histórica; apreciei o piso
de gravilha consolidada, em quadriculado de paralelepípedos
em calçada à portuguesa; achei bonitos os moroiços de lioz em lascas e de
fragmentos do lapiás, por onde espreita alegre vegetação
xerófila.
Para oriente, a praia de S. Pedro,
nesse dia pejada de gente; mais além, o folheado da falésia até à Parede. Ao
fundo, o dorso preguiçoso da Arrábida, a desafiar o oceano do alto do seu Cabo Espichel.
Em frente, o mar sem fim – o «caminho do Atlântico»… – , ponteado de cargueiros
à espera de vez para entrar na barra...
Desce-se para o miradouro
virtual, bem publicitado, mas… inoperacional e sem qualquer informação por perto. E é, à frente, a imensa placa do
lapiás, com uma idade entre os 90 e os 120 milhares de anos, «extensa e horizontal
plataforma de abrasão resultante da grande exposição
aos agentes erosivos», onde a água, retida na vazante, acabava por se evaporar
e deixar nas concavidades o precioso sal, que os pescadores aproveitavam – daí
a razão do nome: Pedra do Sal. Pesca-se à cana, aqui e além…
E apetec e
regalar-nos na esplanada. Sim, poder-se-ia ir para poente, que há motivos de
sobejo encanto: o anfiteatro, a paisagem, a vegetação
autóctone, o ar puro…
As grutas pré-históricas
É importante, do
ponto de vista histórico, o espólio encontrado nessas grutas aquando das escavações
ali levadas a efeito, em 1944, por Leonel Ribeiro, que – juntamente com dois
outros arqueólogos, Vera Leisner e Leonel Ribeiro – haveria de publicar a monografia
Grutas Artificiais de S. Pedro do Estoril
(Lisboa, 1964), a dar conta dos
resultados obtidos.
Dentre esse espólio – como,
aliás, reza a folhinha desbotada e com 20 linhas de letra miúda que está junto
à arriba – as taças de pé, de cerâmica, e os anéis espiralados de ouro são, sem
dúvida, os mais conhecidos. E os cilindros de calcário, «objectos rituais
relacionados com pequenos santuários», escreve-se. Linguagem difícil de
entender para o visitante médio, quiçá…
Podem ver-se esses materiais na
Sala de Arqueologia do Museu dos Condes de Castro Guimarães; mas, se calhar, não
ficaria mal maior atenção e realce a
esse invulgar vestígio arqueológico, nomeadamente procedendo a periódicas
limpezas do local (propício a vazadouro de lixo) e erradicando as piteiras que
lá crescem. Uma das fotos de Danilo Pavone que ilustram a folhinha mostra a
arriba à noite, com três pontos de luz. Adequada iluminação
do espaço que subsiste da câmara funerária dessa gruta de há 5000 anos atrás
não seria, de facto, despicienda.
Artilharia de costa
Dois dos edifícios
de pedra que se encontram a caminho da plataforma do miradouro virtual estão
directamente ligados à bateria da Parede. Abriga um deles um projector com a
seguinte identificação em placa que
lhe está afixada:
PROJECTOR FORTRESS 90 C/M MKVI
CLARKE CHAPMAN
Nº 8136
1940
É
imponente, o mecanismo oleado, o pavimento limpo. Sobre ele (deve ser
adorno!...) uma embalagem vazia de cones de gelado. Na vidraça envolvente,
grafitos vários a roxo e verde…
Anote-se,
como curiosidade, que a empresa fabricante foi criada pelo engenheiro inglês William
Clarke, em 1864; a designação Clarke
Chapman deriva do facto de, em 1893, se ter associado ao capitão William
Chapman. Da sua actividade realce-se o fabrico, a partir de 1886, de
projectores para uso a bordo de navios e, a partir do ano seguinte, de
geradores portáteis e de faróis de busca destinados aos navios que passavam
pelo Canal de Suez.
A explicação
do significado da implantação do
projector ali está mais acima, perto da outra casinha – essa, hermética, de
janela com grades e impenetrável, abriga o gerador. Uma folha de 14 linhas, em
corpo 12, quase completamente indecifrável. Fala-se em II Guerra Mundial ,
em Plano Barron, em forças alemãs… É referência à reorganização da artilharia antiaérea e de costa , feita no final da década de 40 (os projectores
foram instalados em 1948) para melhor defesa da barra de Lisboa. «Cada bateria
de Artilharia de Costa estava equipada com três projectores que tinham por função cooperar na defesa nocturna». Neste caso, a
bateria estava lá no Alto da Parede e o projector acendia-se cá em baixo, quase
ao nível do mar, para identificar os navios.
Uma lição de geologia
Atenção muito especial merece o opúsculo Guia de Campo da Geologia do Litoral da
Pedra do Sal, da autoria de Miguel Magalhães Ramalho.
Ilustrados
com magníficas fotografias, de extraordinária beleza e muito elucidativas da
riqueza geológica do local, são explicados tintim por tintim quatro percursos,
onde se ensina a ler as rochas e a apreciar a sua rara beleza. A história da Terra escrita
no solo…
«Ponto de encontro com
o ambiente»
E, na verdade, o CIAPS representa,
de modo muito especial, esse ponto de encontro com o ambiente, especialmente vocacionado
para apoiar actividades escolares e outras (ainda no dia 15 lá se foi ver o
eclipse da Lua!...). «Há biodiversidade na Pedra do Sal», «Encontra o tesouro
do Capitão Concha», «Vem construir um herbário», «Os caminhos da gotinha»,
«Sábados divertidos»… são algumas das dez actividades que ora ali se propõem,
com horários próprios e inscrição prévia,
para crianças dos 3 aos 10 anos.
Apoio fundamental é o Espaço
Multiusos, de traça bem integrada na paisagem, sala de exposições e de atendimento,
auditório com 36 lugares. Alimentam-no 5 microturbinas
eólicas (um projecto classificado em 1º lugar, a 27 de Janeiro de 2010, na área
de «gestão de energia – parceiros para a inovação »).
Dois atenciosos jovens, ali
colocados no âmbito do programa camarário de Ocupação
dos Jovens, amavelmente me proporcionaram todas as explicações, mormente as que
se prendiam com a exposição de trabalhos
de escolas básicas do concelho feitos à base de materiais reaproveitados; patente de 30 de Maio a 27 de Junho, incitava o público
a premiar o que considerasse o trabalho mais bem conseguido nessa tónica de alertar
para a biodiversidade e a defesa do ambiente.
Para além dos painéis expli
S.
Pedro do Estoril merecia, de facto, um lugar assim!
Publicado
no Cyberjornal, edição de 23-02-2013:
INFLUÊNCIA DO AMBIENTE NA A.M.L. (ÁREA METROPOLITANA DE LISBOA) SOBRE A SELECÇÃO DA PEDRA CALCÁRIA DE LIOZ
ResponderEliminarDescrição do livro:
O presente estudo, resulta da adaptação de uma tese de mestrado, apresentada junto da Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa, no âmbito do Curso de Mestrado em Tecnologia da Arquitectura e Qualidade Ambiental, realizado entre 1993 a 1994. Visa essencialmente determinar os motivos históricos, compreendidos no período da alimentação da economia Portuguesa, pelo ouro derivado da colónia do Brasil, e viabilidade funcional no uso, que levaram à preferência na adopção da pedra calcária de lioz, para fazer face às características do ambiente na A.M.L. (Área Metropolitana de Lisboa), aponta similarmente precauções a ter na sua utilização e aplicação construtiva. Tendo como base a selecção de quatro localidades para amostras, expostas ao mar, interior urbano e rural, identificando as patologias e razões do seu desenvolvimento, fornecendo também indicações para as contrariar. Finalizando com o estabelecimento de um nível de ponderação de importância a dar, nas suas propriedades físicas e químicas, no sentido de proporcionar um método de selecção deste tipo de pedra, na substituição em edifícios existentes, tirando proveito desses parâmetros para servirem ao mesmo tempo, na selecção da pedra calcária de lioz, na construção de novos edifícios.
Edifícios analisados: Palácio Ratton em Lisboa, Torreão Oriental da Praça do Comércio em Lisboa, Igreja de Nossa Senhora da Consolação em Arrentela e Igreja da Nossa Senhora do Monte Sião em Amora.
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